A competição começa nesta quinta-feira (20) e termina no dia 20 de agosto. Austrália e a Nova Zelândia são as sedes.
Se a comparação for em um curto espaço de tempo, o paradoxo será menos expressivo. Um dos melhores exemplos é a transmissão dos jogos da Seleção Feminina do Brasil, na TV aberta, a partir da última edição do Mundial, em 2019.
Este mesmo ano marcou a obrigatoriedade dos clubes de futebol brasileiro da Série A a terem equipes femininas.
Confira aqui os jogos da Copa do Mundo de futebol feminino
Em 2015, apenas TV Brasil e SporTV transmitiram a Copa Feminina. A edição de 2023 entra também na lista de transmissões via streaming.
“O ano de 2019 foi importante e muitas coisas contribuíram para o fortalecimento do futebol feminino. Não só a realização dos jogos na TV aberta, mas o investimento de grandes clubes do futebol masculino, que passaram a abrir seus departamentos, junto com o calendário organizado pela CBF", diz Patrícia Gusmão, supervisora de futebol feminino do Grêmio.
"A obrigatoriedade também contribuiu para esse fortalecimento, com a Copa do Mundo batendo vários recordes de público e audiência."

Caminho sem volta
Mas se o período de tempo para tal comparação for a partir de uma década ou mais, o crescimento da categoria e sua afirmação denotam que estamos diante de um caminho sem volta.
As evoluções do futebol feminino aparecem de diferentes formas. Desde o tratamento recebido pelos times e jogadoras, passando pelos clubes e Seleção Brasileira, até a forma como é visto por mídia e torcedores.
Pela primeira vez na história da Copa do Mundo, o Brasil partiu para uma viagem em voo fretado, com o descanso e a segurança da delegação recebendo uma atenção especial. A presença de uma ginecologista exclusiva também é prova do tratamento diferenciado para as integrantes do grupo brasileiro, que busca o título inédito do Mundial.

O grupo de apoio das jogadoras da Copa passou de quatro mulheres em 2019 para 17 neste ano.
“A evolução de cada esporte precisa de tempo de amadurecimento, crescimento das competições, qualificação técnica das atletas e também o aumento da visibilidade. Para que o público consuma o produto, é muito importante que as equipes sejam qualificadas. É uma engrenagem onde uma ação está diretamente relacionada a outra”, destaca André Rocha, gerente do futebol feminino do Flamengo.
"A visibilidade da modalidade é outra. Temos, hoje, a maior cobertura das Copas, grandes competições internacionais como a Champions e, em um cenário nacional, o aumento de investimento do Brasileirão. A visibilidade aumenta o investimento e melhora salários e estruturas para as atletas”, detalha Rocha.
Além da obrigação
Os clubes, a partir do momento em que foram forçados a criar equipes femininas, sabiam da importância de formar elencos competitivos para conseguir destaque nas competições. Colocar seu nome na vitrine somente para cumprir uma exigência seria pensar pequeno demais. Era preciso aproveitar a oportunidade que aparecia.
Ter jogadoras convocadas é uma das consequências do bom trabalho, que gerou uma mentalidade de fortalecer também as categorias de base.
“Os avanços mais significativos para valorização da modalidade são os investimentos feitos pelos clubes. Hoje a gente vê a maior parte deles pagando as atletas com carteira assinada e realizando contratos profissionais. Essa profissionalização é fundamental, junto com a estrutura que vem melhorando", pontua Gusmão.
“Também podemos ver o crescimento e o investimento dos clubes nas categorias de base. Estes são fatores importantes que contribuem para o crescimento e evolução da modalidade."
Futuro é logo ali
Trabalhar a base é tido como fundamental por André Rocha. O investimento neste setor precisa ser frequente para que os frutos sejam colhidos a médio e longo prazo.
“Hoje a maior diferença entre futebol feminino e masculino é em termos de quantidade de atletas disponíveis no mercado nacional com alto desempenho físico e técnico. Isso vai ser solucionado com o aumento das categorias de base nos clubes. Se não incentivarmos os clubes a trabalharem na iniciação, não teremos atletas suficientes para suprir a necessidade do mercado na alta performance", afirma o gerente.
“Não podemos ter meninas começando a treinar em grandes clubes com 17 ou 20 anos. Essa iniciação precisa ser feita, pelo menos, aos 10. No futebol masculino, hoje, os meninos começam com 6, 7 anos. Essa, na minha opinião, é a diferença que mais impacta."

Muito por vir
As importantes conquistas alcançadas, no entanto, não impedem que muitos outros objetivos ainda estejam à vista. Como, por exemplo, a igualdade salarial.
O salário de Marta, principal jogadora da Seleção Brasileira, é 125 vezes menor que o de Neymar. A jogadora recebe 400 mil dólares por ano. Segundo a revista Forbes, o atacante brasileiro ganha 50 milhões de dólares (R$ 245,9 milhões) por temporada.
Não há outro caminho a não ser clubes, jogadoras, federações e CBF darem passos adiante para que o crescimento seja contínuo.
“Em termos de competições, precisamos de calendários com muito mais jogos para o futebol feminino. As premiações dessas competições também poderiam ser muito melhores", acrescenta Patrícia Gusmão.
"Eu procuro não fazer comparações, mas, para o fortalecimento e para o investimento nos departamentos, precisamos de mais jogos, de melhores estruturas das competições, de melhores premiações. Só assim vamos conseguir ter mais empresas querendo colocar sua marca no futebol feminino. Isso seria fundamental."
