Perto da orla que divide o calçadão da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, uma rede colorida dá relevo a uma quadra inusitada. Na areia quente e dourada, cordas azuis formam um retângulo de 10 metros de comprimento por 5 metros de largura.
Trata-se de uma quadra de tênis ou de vôlei? A dúvida é dissipada, mas não completamente, quando os quatro jogadores de manbol - "manbolistas" - começam a arremessar duas bolas semelhantes a bolas de futebol americano e de rugby para frente e para trás ao mesmo tempo.
Elas são menores do que as usadas nesses dois esportes e seu design tem uma inspiração mais folclórica: as mangas com a qual Rui Hildebrando e seu irmão mais novo, Rogério, brincavam quando eram adolescentes em Belém do Pará.
No posto 4 de Copacabana, Rui - de baixa estatura e cabelos tingidos de loiro - coloca a quadra à disposição de curiosos que queiram se iniciar em seu mundo, que começou há mais de duas décadas.
"No começo, era um jogo simples com mangas. Eu jogava a manga para o meu irmão e ele a jogava de volta. Era uma luta para evitar que a manga caísse no chão. Depois, estabeleci regras lúdicas e percebi que usar duas mangas dava mais energia. A gente não parava, o jogo ficava mais rápido", disse Rui, 44 anos, à AFP.

"Você se cansa"
O passatempo dos irmãos agradou a outros parentes e amigos. Com o passar do tempo, Rui Hildebrando aprimorou as regras e os materiais para a prática do jogo.
Em 2004, com motivações esportivas e empresariais, fundou a Confederação Brasileira de Manbol. Era a criação oficial de um esporte que hoje é praticado na grama da Amazônia ou nas praias do Rio, locais habituais de muitas modalidades.
Batizado com o nome da união das palavras manga e bola, o manbol tem regras simples: é jogado com as mãos e os pontos são marcados quando a bola cai no chão adversário ou quando o adversário a manda para fora da quadra. Se os dois lados marcarem um ponto na mesma jogada, a jogada é repetida.
Pode ser jogado em qualquer superfície, com até três jogadores por equipe, e o primeiro a ganhar dois sets de 12 pontos vence. Em média, cada partida dura entre 15 e 25 minutos.
"É muito dinâmico e as duas bolas o tornam muito divertido. Você fica cansado depois de jogar, mas é uma questão de prática", diz Adriana Mathias, uma professora de educação física de 46 anos que é "manbolista" desde 2007.

Um sonho distante
Pouco conhecido pelos brasileiros e sem atletas profissionais no momento, o esporte vem ganhando espaço aos poucos e já conta com federações em quatro estados brasileiros (Rio, Pará, Ceará e Brasília).
Tem cerca de 2.000 fãs em um país com mais de 200 milhões de habitantes e já foi exibido em 11 países da América do Sul, Europa e Ásia, de acordo com Rui Hildebrando.
Foi reconhecido como uma "modalidade esportiva" por uma lei da câmara municipal de Belém em janeiro de 2016 e apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em junho passado.
"É um esporte inclusivo que pode ser praticado por pessoas de todas as classes e idades. Trabalha diferentes habilidades físicas, agilidade, reflexos. Tem tudo para crescer", diz Katia Lessa, presidente da Confederação Rio Manbol.
As autoridades desse esporte amazônico sonham que um dia ele possa se tornar uma modalidade olímpica, uma aspiração que, por enquanto, parece muito distante em um país mais seduzido pelo futebol ou pelo vôlei. Mas eles não estão desistindo.
Ao lado da atlética Lessa, que protege os olhos do sol forte com óculos escuros e largos, a fisioterapeuta Beti Biaggi observa com curiosidade um esporte do qual nunca tinha ouvido falar antes.
"Fiquei impressionada com a agilidade e a mobilidade", diz a fisioterapeuta de 53 anos. "Achei muito interessante, então parei para assistir", conta.