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Documentário da Placar reafirma importância e "espírito libertário" da revista

Placar se mantém de pé com mais de 50 anos de história
Placar se mantém de pé com mais de 50 anos de históriaDivulgação

Boa parte da formação de quem ama futebol no Brasil foi moldada pela Revista Placar. A publicação chega aos 55 anos em 2025, um ano depois do lançamento do documentário "Placar: a revista militante", que conta sua trajetória com depoimentos de personagens fundamentais em sua trajetória, entre jornalistas e jogadores.

Criada em 1970, ano em que a ditadura eclodia no Brasil, a Placar teve um papel de se opor ao regime sem que muitos - incluindo os militares - percebessem.

O futebol era o cerne principal que permitia espaços para que o autoritarismo fosse contestado pela publicação, produzida por jornalistas, notadamente de esquerda.

Na última semana, tive a oportunidade de comparecer à sessão do documentário, à convite do estádio Mineirão, que contou com a presença dos diretores Sérgio Xavier Filho e Ricardo Corrêa, além dos ilustres Dirceu Lopes e Reinaldo, dois dos maiores craques da história do futebol brasileiro.

Mergulhar na história de Placar por meio do filme me permitiu reviver um pouco da minha infância, quando eu esperava a próxima edição chegar nas bancas ou em casa, quando já era assinante e disputava a leitura com meu irmão dois anos mais velho. Às vezes, precisamos nos deparar com uma obra de arte destas para, anos depois, entender sua importância em nossa formação. 

Pelé e Placar tiveram relação de carinho durante a carreira do Rei
Pelé e Placar tiveram relação de carinho durante a carreira do ReiAntonio Milena

Mais legal ainda foi ser apresentado ao papel democrático que a revista fazia questão de ter. Naquela época, mal tinha noção do significado de muitas matérias. Como bem disse Juca Kfouri, ex-diretor de redação da Placar, ali existia um "espírito libertário" para desenvolver pautas sempre focadas nos craques, ídolos e no que rodava o mundo do futebol, sem esquecer de alguns princípios básicos de uma sociedade justa e igualitária, com denúncias sendo necessárias, como bem manda o manual do jornalismo. 

Placar não demorou a ganhar sua importância e ser uma referência para quem respirava futebol, dentro ou fora dos gramados. O prêmio Bola de Ouro, entregue ao melhor de cada posição ao final do Brasileirão, era um dos auges de jogador, que recebiam um carimbo e talvez um passaporte para a Seleção Brasileira.

A revista abraçou causas necessárias como a Democracia Corintiana, impulsionada por Casagrande, Sócrates e Wladimir, fazendo seu papel de apoiar o direito ao voto no meio da ditadura que assolava o Brasil com torturas e desaparecidos políticos. 

O passar dos anos fez a revista se consolidar como uma das maiores publicações da história editorial brasileira, tendo seus erros e acertos, mas sempre na vanguarda. 

Juca Kfouri foi diretor de redação da Placar
Juca Kfouri foi diretor de redação da PlacarAntonio Milena

Os cartolas sempre foram inimigos e os palpites de apostas, que hoje são tão frequentes no mundo das bets, já eram feitos pela revista, referência para os milhões de apostadores da Loteria Federal. 

O envolvimento com a loteria esportivo foi tanto que, de uma pauta, surgiu uma denúncia de irregularidade, que virou um escândalo nacional, fazendo todos deixarem de lado aquela mania nacional de tentar acertar o ganhador deste ou daquele jogo. 

Algumas das capas icônicas de Placar
Algumas das capas icônicas de PlacarDivulgação

Aquele foi o maior gol de placa da bem-sucedida história da Placar, ao lado de outras envolvendo a Lei do Passe e o doping do ex-craque Mário Sérgio, um dos poucos, ao lado do ex-goleiro Leão, que se recusava a falar com a revista.

Placar deixou sua marca na mente e no coração de quem ama futebol e o caminho da vida profissional ter me levado ao jornalismo só aumentou minha admiração e respeito pela publicação esportiva impressa mais longeva da América Latina. 

Casagrande não podia ficar de fora do documentário para falar sobre a relação entre Placar e a Democracia Corintiana
Casagrande não podia ficar de fora do documentário para falar sobre a relação entre Placar e a Democracia CorintianaAntonio Milena