Kaio Jorge recebeu a redação italiana do Flashscore no centro de treinamento do Cruzeiro, time no qual o jogador de 22 anos fez uma temporada de redenção depois de se recuperar de uma série lesão. Na Europa, Jorge rompeu o tendão do joelho e ficou quase 2 anos sem entrar em campo.
Com um sorriso constante durante o papo, o ex-atacante do Santos e da Juventus mostrou um italiano excelente e fresco, aprendido durante os três anos vividos entre Turim e Frosinone.

• Do que você mais sente falta na Itália?
Ah, sinto um pouco de falta do frio, sinceramente (risos). Aqui no Brasil é muito quente, a gente faz festa quando a temperatura cai! Então, sim, sinto falta do frio da Itália. Mas também sinto falta dos amigos, assim como da comida.
• Seu prato favorito?
A tagliata de carne, semelhante à nossa brasileira. E depois a massa, é claro. Mas no (molho) branco né, sou um atleta (risos).
• Quais jogadores na Itália são ainda amigos com quem mantém contato?
Miretti e outros caras da minha idade. Na Juventus, também Dybala e meu compatriota Danilo, que ainda está lá. Quando me lesionei na Juve, eles me ajudaram muito, e devo dizer que sinto falta deles. Outro grande amigo é Soulé, com quem tive ótimos momentos no Frosinone.

• Danilo está na mira das críticas no momento...
Ele está passando por um momento mais complicado, inclusive com a seleção brasileira, mas todos nós sabemos da sua grandeza, da sua história. É um jogador de qualidade que pode dar uma mão a todos, tanto jovens quanto experientes.
• Dybala também está passando por um período difícil. O que acontece?
Estamos falando de um dos jogadores mais fortes do mundo tecnicamente. Quando eu treinava com ele, era difícil receber a bola dele, porque ele sempre atacava. Então, é claro que, com tantas lesões, é difícil. Mas quando o Paulo está bem, ele é um jogador que pode ganhar um jogo sozinho.
• Quem era seu ídolo na adolescência?
Havia dois, Cristiano Ronaldo e Ronaldinho.
• Com CR7, você compartilhou algum tempo na Juve antes de ele sair em 2021. Aprendeu com ele?
Eu tive essa sorte, e aprendi muito com ele, apesar de termos ficado juntos menos de dois meses. Ele foi muito gentil e prestativo comigo. Nunca vou me esquecer do que ele me disse um dia na academia: "É da preparação que surgem as oportunidades". É uma frase que carrego comigo desde então.
• Como era vê-lo treinar?
Ele chegava ao treino antes de todo mundo. Eu sempre chegava uma hora antes do horário marcado, mas ele já estava lá fazendo a bicicleta ergométrica ou se aquecendo.
• Você acha que ele jogará a Copa do Mundo de 2026 aos 41 anos de idade?
Claro, para mim ele pode jogar até com 45 anos!
• Talvez você possa enfrentá-lo na Copa do Mundo?
Esse é o meu objetivo. Quero tentar, também porque o Brasil não tem muitos centroavantes agora. E eu jogo mais avançado do que o Gabriel Jesus, que gosta de jogar mais de costas para o gol.

• Como foi a chegada à chegou à Juve aos 19 anos?
Quando cheguei a Turim, imaginei muitas coisas, achei que seria titular logo de cara. Depois, vi que havia jogadores mais experientes do que eu e mais prontos para jogar. E é claro que eu respeitava as hierarquias. Mas é um sentimento diferente do que você sente no Brasil, onde um jovem jogador que se destaca é imediatamente colocado entre os titulares. E esperar pela minha oportunidade sem jogar foi difícil.
• O que Massimiliano Allegri lhe ensinou na Juve?
Allegri foi uma pessoa importante para mim porque, quando cheguei, como eu disse, queria jogar imediatamente. Ele me disse: "Espere o seu momento, treine bem todos os dias, aprenda com os outros, com os mais experientes". Assim, aprendi a ter um pouco mais de paciência e a melhorar fazendo treinamentos de alto nível com meus companheiros de equipe.
• O que mais o impressionou nas sessões de treinamento na Itália?
A abordagem competitiva do (zagueiro) Chiellini, é claro. Ele costumava bater em todo mundo. Ele não se importava se você era jovem ou experiente (risos).
• Você acha que, sem a grave lesão que o impediu de jogar por mais de um ano, você ainda poderia estar na Juventus?
Sim, com certeza. Na minha opinião, eu poderia estar lá como um centroavante alternativo ao Vlahovic, que agora é o único atacante. Ainda acompanho alguns jogos da Juve, apesar do fuso horário. Então, vejo o Vlahovic como único atacante e acho que eu poderia ter ajudado...
• Como você superou a lesão?
Além do Dybala e do Danilo, eu também tinha minha família por perto, o que foi fundamental. Sinceramente, acredito que o período da longa lesão na Juve foi o mais difícil da minha carreira. Senti muita dor e tive muitas complicações durante o processo de recuperação. Mas me tornei mais forte mentalmente, esse período me forjou.
• Você acha que poderia ter uma nova oportunidade na Europa?
Eu gostaria de tê-la se me sentir bem, é claro. Definitivamente me sinto mais preparado agora, e meu objetivo em geral é voltar a jogar em uma das principais ligas europeias. Mas primeiro quero fazer história no Cruzeiro.
• Por que o Cruzeiro?
Eu queria voltar ao Brasil e, depois de umas férias, surgiu o interesse do Cruzeiro, pensei em voltar e sentir o calor da torcida. O Cruzeiro é um grande clube e está se recuperando depois de alguns anos difíceis, e estou feliz por fazer parte disso.
• É especial vestiar a 9 do Cruzeiro que era de Ronaldo Fenômeno?
Dele eu nunca vou me esquecer quando me premiou na Copa do Mundo Sub-17 que ganhamos com o Brasil em 2019. Eu não esperava encontrá-lo lá, foi uma surpresa maravilhosa ver que ele iria me dar a medalha. E agora eu tenho a camisa 9 do Cruzeiro, algo que me faz sentir importante.
• E por que você escolheu a Juve?
Por sua história, por sua grandeza. E antes de chegar, fiz dois ou três meses de aulas de italiano para me preparar 70%. Eu ainda gosto muito de falar italiano, ainda digo algumas palavras em seu idioma quando falo normalmente. Mas algumas eu não consigo dizer (risos).
• Vamos encerrar com uma pergunta direta. Quem é o melhor jogador com quem você já jogou?
A resposta é sempre a mesma. Dybala. Junto, é claro, com CR7.
