Dever valores a técnicos, jogadores, clubes, empresários e até fornecedores é uma realidade de muitos times - dos grandes aos pequenos - situação que não impede contratações milionárias, mesmo com dívidas dos mais diferentes patamares.
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Em 2025, o cenário seguirá de débitos por parte dos principais candidatos ao título, que não pensam duas vezes antes de meter a mão no bolso para, ao lado dos parceiros, fazerem contratações milionárias para jogar lá no alto a esperança dos seus torcedores, pensando em conquistar o título de um dos torneios mais competitivos do planeta.
Quem vê os devido pagamentos combinados ficarem pelo caminho se revolta, ao mesmo tempo em que precisa lidar com dívidas constantes e a cara de pau de quem, na teoria, tem todas as condições para evitar calotes que são empurrados até onde for possível.
"Sem dúvida, a falta de caráter de muitos personagens do futebol brasileiro é o que mais me incomoda. Muitos dizem uma coisa na sua frente, viram as costas e mudam de opinião. A inadimplência é um grande problema, principalmente quando se tem uma grande estrutura por trás.
"Clubes grandes me devem há 6 ou 7 anos, empurrando valores de salários e transferências, que viram ações judiciais. Recentemente, ajuizei uma ação contra o Botafogo por causa de uma dívida de R$ 10 mil. Isso me incomoda, mostra uma grande falta de respeito.
"Essas questões contratuais expõem o pior lado da sociedade brasileira, de querer ser malandro para enganar o outro. Não sei como convivem com isso. A ingratidão também é um ponto muito negativo", afirma o agente Marcelo Robalinho, em entrevista exclusiva ao Flashscore.
Para se ter uma noção de como tal cenário vem de longa data, Robalinho lembrou de situação envolvendo o ex-meia Jadson, que foi seu agenciado por um longo período. "Quando eu era agente do Jadson, o Corinthians pediu mais tempo para pagar a rescisã. O prazo foi dado e nenhuma parcela foi paga até acionarmos a justiça. O clube está preocupado no que vai fazê-lo ganhar o próximo jogo. Um diretor de clube já me sugeriu entrar com ação porque ela seria a única forma de receber os valores pendentes", conta.
Sujo fala do mal lavado
No começo de fevereiro, o Internacional se manifestou sobre o não acerto do volante Thiago Maia com o Santos, lamentando a postura de outras partes envolvidas no acordo, que também precisava do Flamengo para que a transferência fosse confirmada. O Inter garantiu que cumpriu todas as suas obrigações, ao contrário de outros lados do negócio.
Horas depois, o Flamengo se manifestou para expôr a dívida do Colorado com o Rubro-Negro, débito este que seria pago pelo Santos aos cariocas. O Fla, no entanto, não aceitou as garantias do Peixe, com o negócio melando.
Este é apenas um exemplo de uma cena corriqueira do futebol brasileiro, com raríssimas exceções de instituições que cumprem sua palavra após acordos serem fechados. E assim caminha a humanidade da elite nacional...
Pequenos sofrem ainda mais
Os clubes menores veem tal realidade os afetar de uma maneira mais incômoda, uma vez que não possuem o tamanho, o peso da camisa, o investimento, os valores por direitos de transmissão e a força de patrocínios dos gigantes concorrentes.
No começo de março deste ano, foi a vez do presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, se revoltar com valores não destinados ao Dourado, como R$ 19 milhões do Corinthians em negócio envolvendo o volante Raniele, R$ 11 milhões do Santos pelo zagueiro Joaquim e outros R$ 4 milhões do Atlético-MG pelo atacante Deyverson, somando um total de R$ 34 milhões.
"Espero que a Comissão Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) tome atitude que favoreça quem precisa do dinheiro e não quem usa de financiamento em cima de dívida pra seguir aumentando este grande buraco. Não dá pra aceitar pagamentos sem juros, permitindo que estes clubes sigam gastando sem limite. Não podemos ser financiadores de calote", protestou o mandatário, que viu seu time cair para a Série B em 2024, em entrevista à Rádio Bandeirantes.
O Flashscore fez contato com a CBF para ter uma posição da CNRD sobre o assunto, aguardando uma posição da entidade que rege o futebol brasileiro.
Alternativa em cenário sem solução
Dresch usou a imprensa como uma forma desesperada de ver, pelo menos parte da dívida, ser quitada. "Não é legal expor mas, se não tivermos coragem, a situação não vai melhorar. Quando é um assunto relacionado à FIFA, você fica devendo e, em pouco tempo, é aplicado um transfer ban, você fica impedido de registrar atletas. Não existe esta história de plano de pagamento, ou você paga ou não paga.
"A CNRD está sendo benevolente com quem deve, permitem um tratamento diferenciado para quem não deveria ter. Tudo isso influencia no fomento do futebol brasileiro. O Cuiabá compra jogadores de pequenos clubes, a cadeia precisa funcionar. Nós não vendemos jogadores para Chelsea, o Corinthians sim. Eles precisam nos pagar para que possamos contratar jogadores de clubes menores. A vida dos espertos é curta, o esperto de verdade são os corretos", protesta.
No meio do ano passado, foi divulgado o Relatório Convocados, elaborado pela Consultoria Convocados em parceria com a Galapagos Capital e a Outfield. O documento foi divulgado pela Revista Exame e mostrou a situação dos principais clubes do país há menos de um ano.
O cenário atual é certamente parecido, com alguns anos sendo necessários para que os maiores gigantes do futebol brasileiro possam ter o nome limpo, situação que tem tudo para perdurar por um longo período.
Veja as maiores dívidas do Brasil
Corinthians: R$ 1,894 bilhão
Botafogo: R$ 1,301 bilhão
Atlético-MG: R$ 998 milhões
São Paulo: R$ 856 milhões
Cruzeiro: R$ 811 milhões
Fluminense: R$ 736 milhões
RB Bragantino: R$ 696 milhões
Vasco: R$ 696 milhões
Internacional: R$ 650 milhões
Santos: R$ 548 milhões
Palmeiras: R$ 466 milhões
Grêmio: R$ 441 milhões
Flamengo: R$ 391 milhões
Bahia: R$ 366 milhões
Fortaleza: R$ 67 milhões