Antes mesmo da conversa ser divulgada, pequenos cortes iam sendo divulgados para alimentar a curiosidade e a procura incessante dos que querem conhecer a visão de CR7 sobre diferentes temas. O objetivo de mais uma entrevista exclusiva parecia claro: manter Cristiano Ronaldo no centro das atenções.
Confira a classificação das Eliminatórias da Copa do Mundo
Estamos falando de um jogador que, no auge, foi indiscutivelmente um dos melhores do mundo e, para muitos, um dos maiores de todos os tempos. No entanto, aos quase 41 anos, os esforços de Cristiano Ronaldo - e do seu círculo mais próximo - para se manter no centro das atenções tornam-se, por vezes, constrangedores.
Quando as coisas não seguem o caminho desejado, surgem comportamentos típicos de uma estrela mimada, que contrastam com a imagem de profissional exemplar que marcou grande parte da sua carreira.
Primeiro cartão vermelho por Portugal
Em uma atuação individual desastrosa contra a Irlanda (2 a 0), Cristiano recebeu a pior classificação de toda a seleção portuguesa. Sua cotovelada em Dara O'Shea acabou terminando com uma ida antecipada ao vestiário após análise do VAR. Ao invés de sair discretamente, o atleta teve que transformar o momento em mais um espetáculo centrado nele.
Gestos para a torcida da casa que o provocava e, depois, discussões acaloradas com o banco enquanto se dirigia para o túnel não são atitudes dignas de um suposto gigante do futebol. O incidente, já desagradável, tornou-se ainda mais midiático do que seria de esperar, alimentando mais debates na imprensa.
O fato do cartão vermelho poder tirá-lo dos dois primeiros jogos de Portugal na próxima Copa do Mundo quase se perdeu no meio da confusão pós-jogo. Um Mundial que, na prática, será o último de Ronaldo.
Os números continuam impressionantes
Com 10 gols e duas assistências, em 16 jogos por Portugal desde que se mudou para a Arábia Saudita, e uma precisão de passe superior a 80%, tanto no clube como na seleção, é evidente que o jogador ainda tem muito para oferecer. Se isso é suficiente para afastar outros jogadores da Seleção, só Roberto Martínez poderá responder.
No contexto de clube, desde que chegou ao Al-Nassr, marcou 83 gols em 85 jogos e deu 17 assistências, números impressionantes para quem está prestes a completar 41 anos. Ainda assim, o nível dos adversários é, no máximo, irrelevante e, apesar da chegada de jogadores estrangeiros, as arquibancadas estão frequentemente vazias.
Das 18 equipes da divisão, nove registraram médias de público inferiores a 40% em todos os jogos desta edição. No caso do Al-Riyadh, Al-Kholood, Damac FC e Al-Fayha FC, os torcedores presentes nos jogos em casa raramente ultrapassam 1.500. Quando o Al-Riyadh recebeu o Al-Khaleej no Estádio Príncipe Faisal bin Fahd, com capacidade para 22.188 pessoas, em janeiro, apenas 315 pessoas marcaram presença.
Na verdade, tirando o Al-Nassr, Al-Hilal, Al-Ittihad e Al-Ahli, todas as outras equipes sauditas têm médias inferiores a 8 mil espectadores por jogo, o que contraria a recente afirmação de Ronaldo sobre a liga, que é, no mínimo, risível, mas serve para voltar a ocupar as manchetes.
"Claro que a Liga Saudita continua a evoluir, mas acredito que, neste momento, já estamos entre as cinco melhores ligas do mundo. Estou feliz porque sei que a liga é muito competitiva. Só quem nunca jogou na Arábia Saudita é que não percebe nada de futebol", disse aos jornalistas.
É uma afirmação ousada, sobretudo quando os números apontam para o contrário, e só serve para perpetuar a ideia de que estas são as palavras de uma estrela em declínio que não consegue lidar com o fato de já não estar sob os holofotes.
Necessidade constante de atenção
Será que Ronaldo estaria realmente elogiando a liga e jogando no Oriente Médio se não recebesse um salário de cerca de 4,8 milhões de euros por semana?
É esta necessidade constante e intrínseca de atenção e de querer manter-se relevante que se torna irritante, desviando muitas vezes o foco das suas atuações em campo.
Seria muito melhor que deixasse o futebol falar por si e se retirasse com o status de lenda intacto, em vez de ser alvo de chacota constante por atitudes que apenas evidenciam um traço de personalidade, que acaba sendo amplificado e o prejudicando ainda mais.

