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Sucesso absoluto no Brasil, Mundial dribla incógnitas europeias com impulso da paixão latina

Torcedor do Flamengo comemora gol contra o Chelsea na Favela Rio das Pedras, no Rio de Janeiro
Torcedor do Flamengo comemora gol contra o Chelsea na Favela Rio das Pedras, no Rio de JaneiroMariana Sá / Flamengo
Se a Copa do Mundo de Clubes para a Europa ainda é uma incógnita, o torneio intercontinental pegou de vez no Brasil — ao ponto de muitos torcedores de times que não estão envolvidos na disputa, se verem na torcida para um bom resultado das equipes brasileiras. O sucesso de audiência é notório. A principal emissora do país pentacampeão mundial apontou que 75 milhões de pessoas acompanharam a primeira semana da competição.

Com quedas consecutivas nas quartas de final das últimas Copas de seleções, o futebol brasileiro pode enxergar nesta competição uma forma de se provar como potente aos olhares do mundo — mesmo que todos saibam que a abundância de talentos gerados no maior país da América do Sul continua a alimentar a cadeia do futebol internacional, especialmente o europeu. 

Confira a tabela da Copa do Mundo de Clubes no Flashscore 

O Brasil, por exemplo, tem a maior quantidade de jogadores disputando o próprio Mundial de Clubes deste ano (141). Na última edição de Champions League, dos 36 clubes que disputaram a fase de liga, 22 possuíam atletas brasileiros no elenco. 

Há quem não entenda o demasiado frenesi ou relevância que os brasileiros e sul-americanos, no geral, estão dando aos triunfos conquistados na Copa do Mundo de Clubes. 

"Não sei por que os brasileiros, argentinos e sul-americanos estão tão preocupados se são melhores ou não que os europeus. Eu não entendo porque todas as equipes europeias querem jogadores brasileiros, argentinos, mexicanos, americanos, estão cheias deles", declarou o técnico Luis Enrique, que teve sua equipe, o PSG, derrotada pelo Botafogo por 1 a 0, no Rose Bowl, na última semana. 

"Claramente o futebol sul-americano é uma potência mundial. O que acontece é que os jogadores vão para a Europa para jogar nas melhores equipes, mas não há nenhuma dúvida do nível top das equipes sul-americanas", seguiu o comandante do time parisiense. 

Acompanhe Atlético x Madrid x Botafogo com narração ao vivo no Flashscore 

"Não há nenhuma dúvida do nível do futebol sul-americano, centro-americano, norte-americano, asiático, africano, jogadores de altíssimo nível, todas as equipes europeias têm jogadores destes continentes e ficam encantadas de tê-los. Se você ganha ou não uma competição, acho que não é o importante. Nós seguimos com a intenção de ir o mais longe possível nesse torneio, que já pudemos ver que é muito difícil", acrescentou o comandante espanhol. 

A obsessão sul-americana 

Mas talvez Luis Enrique não compreenda que para os sul-americanos, a conquista do mundo no âmbito de clubes é uma obsessão que permeia todas as equipes do continente. Desde o Corinthians, em 2012, nenhum clube brasileiro ou sul-americano no geral conseguiu atingir esta glória máxima. 

Desde que o torneio passou a ser chancelado pela FIFA, dando fim às disputas intercontinentais de outrora, apenas em quatro oportunidades, times sul-americanos sagraram-se campeões, todos eles brasileiros. 

Mas existem motivos enraizados para o completo descrédito europeu em relação a essas disputas intercontinentais. Começou lá atrás, com várias alegações de violência apontadas pelos europeus durante os jogos contra os sul-americanos. Em 1967, por exemplo, na decisão entre Racing-ARG e Celtic, o time escocês, que havia vencido o jogo da ida por 1 a 0, em casa, relatou atos hostis em Buenos Aires, onde perderam por 2 a 1.  

Segundo Jock Stein, técnico do Celtic à época, o goleiro de sua equipe teria sido atingido por uma pedra atirada das arquibancadas. A delegação ainda teria encontrado uma faca e dardos no gramado. No jogo decisivo, em Montevidéu, campo neutro, o Racing venceu por 1 a 0, o primeiro título mundial da história de um clube argentino. 

Com a "porteira aberta", o futebol sul-americano começou a registrar uma hegemonia na disputa contra os europeus, que tiveram de tomar uma atitude. Eles propuseram que a decisão levasse em conta os gols marcados, evitando o terceiro jogo. 

Logo no primeiro ano de mudança, em 1968, o Manchester United perdeu para o Estudiantes, e todos os clubes britânicos campeões da Europa passaram a recusar o convite para participar da Copa Intercontinental.

Durante esse período, a virilidade dos confrontos seguiu, como a icônica decisão ente Estudiantes e Milan, em 1969. Em solo italiano, o Milan venceu por 3 a 0. No jogo da volta, em La Bombonera, a selvageria reinou, inclusive com Néstor Combim, jogador da equipe italiana, fraturando o nariz e o malar após uma cotovelada desferida por um jogador do Estudiantes. 

Mesmo com a pancadaria, o Milan sagrou-se campeão naquela disputa, uma vez que a derrota por 2 a 1 foi insuficiente para superar os 3 a 0 em Milão. Com as botinadas dos argentinos e a pouca exposição da violência, já que os jogos não eram transmitidos na TV, os campeões europeus passaram a boicotar a competição, a começar pelo Ajax, em 1971. Com isso, os vice-campeões euroupeus começaram a ser convidados. 

Um caso marcante aconteceu em 1973: a Juventus, vice-campeã europeia, perdeu o jogo de ida contra o Independente na Itália, por 1 a 0, e recusou-se a jogar na Argentina. O clube de Avellaneda acabou se sagrando campeão mundial. 

O torneio ainda teve um campeão mundial que não foi vencedor em seu continente. Vice em decisão contra o Bayern de Munique em 1974, o Atlético de Madrid derrotou o Independiente e ficou com o troféu.

Mas, no ano seguinte, a competição não aconteceu por falta de consenso entre o Bayern, novamente campeão europeu, e o Independiente.  

Em 1976, no entanto, o Bayern de Munique aceitou participar do torneio em simpatia ao futebol do Cruzeiro, que conquistou seu primeiro título da Libertadores ao superar os argentinos do River Plate. Os bávaros se sagraram campeões em dois jogos. 

Pouco antes, a imprensa europeia já tratava a disputa com desdém, como no caso da conquista do Ajax em 1972 sobre o Independiente. Os jornais holandeses disseram que o "título não era mais difícil do que um encontro banal na Liga dos Campeões"

Bem-vindo ao mundo real

O técnico Pep Guardiola foi bastante feliz em sua análise da entrega absurda das equipes sul-americanas na Copa do Mundo de Clubes. É uma motivação extra, como se jogassem pelo orgulho, pela paixão de seus torcedores, sem deixar nada para trás, literalmente no limite. 

"Eu adoro quando neste torneio sul-americanos enfrentam europeus, times de diferentes continentes, como eles te desafiam, como competem... Eu admiro como eles defendem. Veja como o Boca vai em cada bola, até o fim do mundo... Diferentes estilos, é muito bom, gosto que cada jogo seja muito duro. As pessoas falam: 'Surpresa, uma equipe europeia perdeu'. Ah, é? Bem-vindo ao mundo real", analisou o comandante do Manchester City

Antes da estreia do Fluminense no Mundial de Clubes, o colombiano Jhon Arias, que vem sendo um dos destaques do torneio, deu uma importante declaração sobre o que os sul-americanos queriam mostrar na disputa. 

"Estamos representando todo um continente (...) é uma grande oportunidade para o Fluminense e para nós mostrarmos ao mundo a nossa raiz, a nossa cultura, a nossa forma de vivenciar o futebol”, destacou o jogador. 

E assim tem sido. Dos jogadores aos torcedores. A bonita festa da torcida do Boca Juniors em Miami foi uma prova disso, além das invasões brasileiras na Times Square, em Nova York. Os sul-americanos, de fato, trouxeram o clima de Copa para os Estados Unidos e são os destaques do torneio. 

Brasil quer o torneio em 2029

Com o sucesso da competição, o Brasil, por meio da CBF, já publicizou o interesse em recepcionar a próxima Copa do Mundo de Clubes, programada para 2029. Foi a primeira iniciativa concreta de Samir Xaud à frente da Federação que rege o futebol brasileiro.

A ideia, de acordo com o próprio, foi bem recebida por Gianni Infantino, presidente da FIFA, que vê a competição, uma das joias de sua administração tomar forma e ser desejada não apenas como um torneio teste para a Copa do Mundo de seleções, mas como uma competição consolidada no calendário. 

Brasil é candidato à sede do Mundial de Clubes em 2029
Brasil é candidato à sede do Mundial de Clubes em 2029Reprodução/Instagram

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