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Finalistas da Libertadores, Atlético-MG e Botafogo foram transformados pela força das SAFs

Menin e Textor comandam as SAFs de Galo e Botafogo
Menin e Textor comandam as SAFs de Galo e BotafogoČTK / imago sportfotodienst / Allan Calisto e Vítor Silva
A final da Libertadores entre Atlético-MG e Botafogo coloca frente a frente duas das SAFs mais poderosas do futebol brasileiro.

O novo modelo trouxe investimentos milionários e permitiu que Atlético e Botafogo se colocassem na briga pelos principais títulos do Brasil e do continente.

Saiba tudo sobre Atlético-MG x Botafogo na final da Libertadores

As duas SAFs fizeram os alvinegros deixarem uma realidade financeira desfavorável e uma certa distância por taças de expressão para contar com contratações desejadas por muitos, que surtiram efeito dentro de campo. Quem não gostaria de contar com jogadores do porte de Hulk, Paulinho, Luiz Henrique e Igor Jesus em seus elencos?

Rafael Menin, Rubens Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães, do Atlético-MG
Rafael Menin, Rubens Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães, do Atlético-MGPedro Souza/Atlético-MG

Com uma nova mentalidade, a SAF prioriza o balanços positivos e deixa de lado, muitas vezes, a paixão que desperta os torcedores e que também esteve presente no coração de presidentes. A realidade a partir desta virada de chave é outra. 

No Atlético, a SAF atende desde 20 de julho de 2023 pelo nome dos 4 R's: Rubens Menin, Rafael Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães, todos conselheiros de longa data.

O quarteto assumiu a gestão do clube, que tinha uma dívida superior a R$ 2 bilhões, marcando presença física e financeira nos bastidores desde 2019, quando o presidente ainda era Sérgio Sette Câmara. 

Empréstimos feitos sem juros foram uma mão na roda para contratações que fizeram o Galo levar os títulos da Série A e da Copa do Brasil em 2021. Para fechar os benefícios, o Atlético contou, finalmente, com seu estádio próprio, entregue em 2023. 

Nem tudo são flores

Ao mesmo tempo em que a torcida atleticana é grata pelo investimento feito, críticas não faltaram por escorregadas. 

A Arena MRV, novo estádio do clube, foi entregue com diversos problemas, que foram alvos de críticas não somente da mídia como dos próprios jogadores, incomodados com o estado do gramado de uma arena nova em folha.

A acústica também é um problema recorrente, que ainda tenta ser resolvido. As visitas a algumas das principais arenas do mundo e muitos milhões à disposição não foram suficientes para o Atlético-MG satisfazer sua torcida sobre a nova e tão esperada casa. 

Conhecido pelo fanatismo da torcida, o clube virou motivo de piada por muitos ao instalar microfones e caixas de som que pudessem reverberar, em maior potência, o apoio que saía da garganta dos atleticanos.

Insensibilidades

Não bastando as falhas estruturais, a gestão ainda perdeu a mão em ações que mostraram falta de bom senso. Em clássico contra o Cruzeiro em 2023, funcionários do clube tentaram impedir que o rival colocasse sua bandeira na mesa de coletiva de imprensa, quando o espaço ali era destinado à entrevista dos celestes. O desacordo fez o time da casa desligar o microfone do espaço para impedir a realização da entrevista pós-jogo. 

Um torcedor e morador de rua, com perfil sócio-econômico bem diferente dos que se acostumaram a frequentar a Arena MRV, foi retirado do estádio por estar incomodando os que estavam ao seu redor, quando dançava sozinho e alegre nas cadeiras, causando visível desconforto aos torcedores próximos. O clube se justificou alegando "conduta inadequada" do torcedor, fato que foi negado por alguns dos que presenciaram a ação. A diretoria, posteriormente, reconheceu o erro e pediu desculpas pelo incidente. 

O jornalista Fred Melo Paiva, crítico dos 4 R's, teve seu rosto do mural do estádio apagado, após colunas não muito bem recebidas pela gestão, que foi na direção contrária à democracia que marca a história do clube. O gesto demonstrou que opiniões divergentes a quem comanda a instituição não são bem-vistas nem aceitas. 

Fred Melo Paiva teve rosto apagado após críticas à gestão atleticana
Fred Melo Paiva teve rosto apagado após críticas à gestão atleticanaReprodução

Transformação do Glorioso

A chegada de John Textor ao Botafogo, quando o time ainda disputava a Série B de 2021, fez o clube dar uma guinada não somente em sua estrutura, mas também em nível competitivo. Depois de anos de sofrimento, o Glorioso entrou na lista de favoritos.

"Ressuscitamos um clube histórico da falência na 2ª divisão para lutar por campeonatos no topo da Série A", disse Textor, em nota, após aquisição de 90% das ações do Botafogo.

A transformação botafoguense, dentro e fora de campo, aconteceu em tempo recorde, com o time brigando por título brasileiro e continental apenas três anos depois. "Nosso planejamento sempre foi ser competitivo, aliado à sustentabilidade financeira", indicou Thairo Arruda, CEO do Bota, em entrevista ao Flashscore Podcast

"Depois do ano passado, quando tivemos sucesso de receita e com redução de despesas, ficou mais fácil focar no ser competitivo. Neste ano, vamos bater recorde de receitas novamente, temos os passivos equalizados", declarou. 

"Não tínhamos estrutura para treino e hoje temos equipamentos de alta performance. Isso impacta nos resultados dentro de campo, nos permite investir e fazer os jogadores estarem mais bem preparados. Eu considero este o turn-around mais importante do mundo do futebol, mesmo sem ainda conquistar um título", completou o dirigente. 

Acusações sem prova e atenção dividida

John Textor também comanda clubes como Crystal Palace, da Inglaterra, além do Lyon, da França, e o Molenbeek, da Bélgica.

O empresário norte-americano foi além de gerir o clube carioca. Suas polêmicas falas sobre manipulação de resultados ganharam espaço na mídia e criaram atrito com representantes de outros clubes, a exemplo de Leila Pereira, presidente do Palmeiras.

Textor afirmou possuir em mãos um relatório, que comprova os resultados combinados no futebol brasileiro em 2022 e 2023. Tal documento acabou nunca sendo apresentado, inclusive na CPI onde prestou depoimento. A situação soou como desculpa para o insucesso do Botafogo dentro das quatro linhas. O mandatário chegou a cobrar a renúncia de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.

Para muitos torcedores, o que vale são títulos e bolas na rede. Textor foi o responsável pelas maiores contratações da história do clube, colocando a mão no bolso para fazer o nível técnico da equipe se fortalecer absurdamente. Somente em 2024, foram investidos mais de R$ 323 milhões pelo Glorioso. 

A atenção de Textor com outros clubes, ao mesmo tempo, não é tão bem-vista pela torcida. O meia argentino Almada, por exemplo, chegou em 2024, com sua despedida já pré-definida para o Lyon, outro clube que pertence ao empresário. 

A facilidade de transação entre os clubes que são de propriedade do norte-americano desanima alguns botafoguenses, que sentem na pele que o que fala mais alto é a questão comercial e econômica. 

Se for mais interessante para Textor priorizar um dos seus clubes europeus, isso será feito sem pestanejar, deixando os torcedores botafoguenses decepcionados por não receberem o valor desejado.

O rebaixamento provisório do Lyon para a 2ª divisão francesa pode ser evitado com ajuda do Botafogo. Uma página que, se confirmada, não será esquecida tão cedo pela torcida que cansou de fazer seu papel nas arquibancadas do Nilton Santos e que se acostuma, agora, com tempos de glória não tão comuns nos últimos anos.