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Exclusivo: Del Bosque diz que Ronaldo era "obediente" e conta como treinava os Galáticos

Del Bosque comandou o elenco estrelado do Real
Del Bosque comandou o elenco estrelado do RealPASCAL GUYOT / AFP / AFP / Profimedia

Vicente del Bosque, ex-treinador do Real Madrid e da seleção espanhola, conversou com exclusividade com o Flashscore, direto da Espanha.

Na segunda parte da nossa entrevista exclusiva, Del Bosque relembra um pouco do seu tempo à frente do Real Madrid com os famosos "Galácticos", e conta como era treinar Ronaldo Fenômeno.

Confira a 1ª parte da entrevista com Vicente del Bosque

Nossa entrevista com Vicente del Bosque
Flashscore

• Vamos falar dos Galácticos...

(Interrompe) Não, não, não, deixa eu dizer antes de qualquer coisa, eu gostaria de ser um bom ex-treinador – ou pelo menos tento ser! Já basta o Madrid ter perdido de 5 a 2 (no derby contra o Atletico), mas se eu falar do Madrid, vão dizer 'Ah, agora ele fala do Madrid (depois de perder)', então não, não vamos falar dessa partida.

• Não vamos falar desse jogo, Don Vicente, fique tranquilo! Gostaria de saber como foi comandar um jogador jovem, por exemplo, Nicolas Anelka, porque você teve que lidar com personalidades fortes na sua carreira de treinador. Como foi trabalhar com ele?

Ele provavelmente era um desses jogadores, não mais teimoso (que outros), menos emotivo, embora não tenha nos dado muitos problemas.

Era um bom rapaz e, apesar de ter ficado afastado por uma ou duas semanas por uma lesão leve, nos ajudou a conquistar o título europeu. Não podemos esquecer disso. Tenho muito carinho por ele também, mas, bem, todos nós temos nossos defeitos.

Nicolas Anelka participa de um treino do Real Madrid em 2000
Nicolas Anelka participa de um treino do Real Madrid em 2000Christophe Simon / AFP

• Algo mudou no vestiário com a chegada do Figo vindo do Barcelona?

Acho que ele foi bem recebido. No futebol, há coisas que parecem impossíveis. Um jogador do Barcelona, com todo o carinho que o pessoal de Barcelona tinha por ele, de repente indo para o Madrid, parece um choque.

Mas é preciso lidar com isso com tranquilidade. Já aconteceu nos dois sentidos – o Luis Enrique, pouco antes dele, também saiu do Madrid. (Jogadores que trocaram de time) antes ou depois dele, agora não lembro, mas já houve transferências dos dois lados.

• Você consegue imaginar essas transferências hoje em dia no futebol moderno? Um jogador do Barça indo para o Madrid ou o contrário?

Sim, sim, acho que sim. Pode acontecer, e não sei, não tenho isso fresco na memória agora, mas tenho a impressão de que a qualquer momento pode acontecer uma transferência assim. Depois do que aconteceu com o Figo, para nós não seria nada dramático.

• Sobre outro assunto... Zidane jogador e Zidane treinador, o que eles têm em comum?

Só posso dar minha opinião sobre o Zidane como jogador. Ele foi uma das maiores contratações do clube e um jogador excelente. Era muito exigente consigo mesmo, muito exigente com os companheiros, e sinceramente acho que no começo foi difícil para ele se adaptar.

Ele veio da Itália (Serie A) com um estilo de jogo diferente e outra forma de encarar os treinos. E acho que no início foi um pouco complicado para ele se adaptar a nós. Mas se perguntássemos a ele agora em qual time ele foi melhor, Juventus ou Real Madrid, acredito que ele diria Real Madrid. Acho que sim.

• Recentemente, entrevistamos Ruben de la Red, e ele nos contou que o Zidane, apesar de parecer um cara sério, tem senso de humor e era muito feliz no vestiário. Você também sentia isso?

Sim, sim, ele era um cara reflexivo, tranquilo, mas também muito expressivo, e isso ajuda a entender os jogadores. Cada um é diferente. O mais importante é que eles rendam o máximo possível e pensem no time.

• Zidane tinha um perfil diferente, por exemplo, do Ronaldo Fenômeno, ex-companheiro dele. O Ronaldo disse que você foi o treinador que mais o entendeu. O que isso significa para você?

Eu o entendi perfeitamente, sim, sim, sim. Acho que é muito importante que o ambiente do vestiário seja cordial, afetuoso, que todos se deem bem. Um ambiente saudável de trabalho é fundamental para conseguirmos resultados. Por que precisamos ficar gritando o dia inteiro, por que precisamos ficar bravos com eles o tempo todo? Não.

Acho que temos que aceitá-los como são. E o Ronaldo, para mim, é um exemplo de jogador que precisava estar feliz para jogar bem futebol.

• Vejo que você sorri ao falar dele. Imagino que aquele vestiário era realmente feliz com esses jogadores, não?

Sim, sim, claro que era. Isso nunca me incomodou, porque ele era obediente e queria ser feliz jogando futebol. Os jogadores também têm o direito de curtir o jogo, e todos os treinadores querem que eles se divirtam jogando.