Com seis episódios, "Saudi Pro League: Kickoff" foi lançada apenas três semanas antes da votação de quarta-feira (11) pelo Congresso da Federação Internacional de Futebol (FIFA), que deve validar a candidatura da Arábia Saudita, a única candidata, para organizar a prestigiosa competição.
Confira a classificação da Liga Saudita
A votação é uma etapa crucial na estratégia do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salmane, governante de fato do reino, que está usando o esporte como uma alavanca para fortalecer a influência da Arábia Saudita e melhorar a imagem do gigante do petróleo no cenário internacional.
O futebol está no centro dessa estratégia e a série traça a transformação da Liga Saudita, graças à chegada de estrelas do futebol como Cristiano Ronaldo, Neymar e Karim Benzema, que desempenham um papel central no programa.
O documentário também destaca a "paixão histórica" dos sauditas pelo futebol, de acordo com um comentarista, ao citar clubes fundados há quase um século e rivalidades quase tão antigas.
Em uma cena, o atacante Talal Haji, de 17 anos, do Al-Ittihad, passeia pela cidade velha de Jidá em um thobe, a longa vestimenta branca usada pelos sauditas.
"Estou muito orgulhoso do meu futuro. Daqui a 10 anos, estarei jogando a Copa do Mundo em nosso solo", declara.
Mudando as percepções
Embora a política permaneça discreta na série, Mohammed ben Salmane aparece brevemente para apresentar um troféu ao clube Al-Hilal, vencedor da Copa do Rei contra o Al-Nassr, de Cristiano Ronaldo.
O astro português diz à câmera que a aventura na Arábia Saudita é principalmente esportiva. "Não estou aqui pelo dinheiro... estou aqui para vencer", afirma.
Por outro lado, para o pesquisador da Universidade de Georgetown, Danyel Reiche, os astros estrangeiros não estão no país apenas pelo futebol.
"Eles fazem parte de uma missão mais ampla para normalizar a imagem da Arábia Saudita e transformar as percepções internacionais", defende.
Além do futebol, Riad já sediou torneios de tênis de alto nível, lutas de boxe de pesos pesados e corridas de Fórmula 1. Esses eventos têm sido frequentemente criticados como "lavagem esportiva", que desvia a atenção das violações dos direitos humanos, como o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, e a prisão de opositores.
É provável que essas críticas persistam, principalmente se a candidatura saudita para a Copa do Mundo for bem-sucedida. O príncipe herdeiro ignorou as acusações.
"Se isso ajudar a economia saudita a crescer, continuarei a fazer lavagem esportiva", declarou à Fox News.
"É improvável que a série mude a opinião dos críticos mais virulentos, que veem essas iniciativas pelo prisma da lavagem esportiva. Ela parece ser mais voltada para um público curioso para entender as ambições sauditas para o futebol", diz Kristian Coates Ulrichsen, do Baker Institute da Rice University, nos Estados Unidos.
Altos e baixos
De acordo com a Saudi Pro League, a história em si foi concebida pela Netflix, que, portanto, manteve total controle editorial sobre o documentário, que também destaca os desafios enfrentados pela segunda liga que mais gastou, depois da Premier League, em junho de 2023.
"A chegada de jogadores estrangeiros tem impactos positivos e negativos", admite Abdulrahman Ghareeb, ala saudita do Al-Nassr.
Apesar das imagens de torcedores agitando bandeiras nos estádios, o comparecimento continua limitado: a média para a temporada 2023/24 é de 8.158 torcedores, em comparação com 9.701 do ano anterior, de acordo com o site de referência Transfermarkt.
E, apesar da presença de estrelas, o interesse da mídia internacional, especialmente na Europa, parece ter diminuído.
Algumas das estrelas também estão encontrando dificuldades para se adaptar às condições locais, que se caracterizam pelo calor intenso durante parte do ano, o que força os jogos a serem disputados até tarde da noite.
Jordan Henderson trocou o Al-Ettifaq pelo Ajax depois de apenas seis meses, e Neymar ficou afastado por quase um ano com uma lesão no joelho antes de voltar a jogar no final de outubro. Essas ausências, no entanto, permitiram que alguns dos jogadores locais brilhassem.
"Meu objetivo é que qualquer jogador saudita possa superar uma estrela estrangeira", diz o atacante do Al-Ahli, Feras al-Brikan. Para muitos, a transformação do futebol saudita continua sendo um projeto de longo prazo.
"No futebol, o que conta não é como começa, mas como termina", diz o técnico do Al-Hilal, Jorge Jesus.