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FlashFocus: romeno Chivu deixa de ser herói em campo para virar salvador fora dele

Cristian Chivu no banco do Parma
Cristian Chivu no banco do ParmaLorenzo Cattani/IPA Sport / ipa-agency.net / IPA / Profimedia
A jornada de Cristian Chivu tem sido de sucesso, seja conquistando honras com a seleção romena, ganhando o título holandês com o Ajax, levantando o troféu da Liga dos Campeões com a Inter de Milão ou treinando as equipes de base do Milan depois de pendurar as chuteiras.

Quase três décadas se passaram desde que um jovem de 16 anos pisou no gramado do CSM Reșița, um dos times menos badalados da Romênia. Mas uma história que começou em um lugar distante da nata do futebol romeno se desenrolou rapidamente, pontuada por momentos gloriosos e dramáticos.

Na edição mais recente, Cristi Chivu enfrentou seu primeiro grande desafio como técnico: ele não apenas estreou na primeira divisão italiana, o que por si só pode ser um ponto de virada na carreira de qualquer treinador, mas também é a primeira vez que ele treina uma equipe profissional. Portanto, o guarda-chuva pode parecer grande, mas as recompensas podem ser proporcionais.

O Parma precisa de um líder para sobreviver

Tendo acabado de retornar à Serie A, o Parma corre o risco imediato de cair para a segunda divisão do futebol italiano.

Já se passaram 20 anos desde que os parmegianos, uma das potências da Serie A do passado, ficaram apenas com o objetivo de manter seu lugar na elite.

O clube foi rebaixado três vezes neste século, por isso muitos temem que o atual retorno à Serie A não dure muito tempo.

Os torcedores esperavam que o time entrasse em uma nova era sob o comando de Fabio Pecchia, o técnico com o qual o clube foi promovido na última temporada, mas que não parece ser capaz de incutir a mesma confiança. 

Desempenho recente do Parma
Desempenho recente do ParmaFlashscore

Técnico para o futuro

A chegada de Cristian Chivu causou um impacto imediato. O primeiro jogo do Parma com o romeno no banco de reservas também marcou sua primeira vitória, um 2 a 0 sobre o Bologna, e o Parma saiu da zona de rebaixamento.

Dos técnicos da história do Parma, apenas três venceram em suas estreias na Serie A: Carlo Ancelotti em 1996, Pietro Carmignani em 2001 e agora Cristian Chivu.

A derrota por 1 a 0 para a Udinese complicou a equação da salvação, mas os dirigentes do Parma sinalizaram que a contratação de Chivu tem mais a ver com o futuro, não necessariamente com a temporada atual.

Se o objetivo fosse permanecer na Serie A a todo custo, o proprietário Kyle Krause provavelmente teria optado pela mão mais segura de um técnico experiente, não de um novato.

Parma é o primeiro time fora do Z3 da Serie A
Parma é o primeiro time fora do Z3 da Serie AFlashscore

Mas a visão do americano é mais voltada para a formação de jogadores jovens, e é nisso que Chivu se destaca.

A opinião geral é que o Parma está assegurando seu futuro a longo prazo: mesmo que o time seja rebaixado, há uma boa chance de Chivu ficar, especialmente se ele provar ser capaz de ajudar a formar jovens talentos.

"Não gosto de mediocridade. Quero uma equipe em que eu e o clube sejamos parceiros. Porque estou comprometido de corpo e alma. Sei como desenvolver jogadores e também posso vencer com eles", disse Chivu sobre suas qualidades de treinador pouco antes de assinar com o Parma.

Da Romênia para a Itália via Amsterdã

Chivu jogou apenas duas temporadas na Romênia. Seu talento foi imediatamente descoberto pelo Ajax, que prontamente o transferiu em 1999, após um período de intensa prospecção.

Nem mesmo dois anos depois, em 2001, o romeno foi nomeado capitão do Ajax, cargo no qual levou o time ao título.

Em seguida, chegou à Serie A, primeiro na Roma e depois no episódio mais bem-sucedido de sua vida, a Inter de Milão, com a qual venceu a Liga dos Campeões em 2010, sob o comando do português José Mourinho.

Cristi Chivu (segundo da esquerda para a direita) comemora a conquista do título com o Ajax
Cristi Chivu (segundo da esquerda para a direita) comemora a conquista do título com o AjaxJASPER JUINEN ANP AFP

Uma tragédia e a tríplice coroa

Mas nem tudo foram rosas para Cristi Chivu. Ele passou por um momento decisivo que não apenas colocou em risco sua carreira no futebol, mas também sua vida.

Em 2010, quando jogava pela Inter de Milão, o jogador da seleção romena sofreu um sério golpe na cabeça, sofrendo uma fratura no crânio em uma partida contra o Chievo Verona.

Cristian Chivu teve de jogar com um capacete de proteção
Cristian Chivu teve de jogar com um capacete de proteçãoAFP PHOTO / GIUSEPPE CACACE

Chivu foi levado às pressas para o hospital e passou por uma cirurgia no cérebro. Apesar das dúvidas de muitos, Chivu voltou aos gramados e venceu a Liga dos Campeões com a Inter.

No mesmo ano, ele fez parte da equipe que conquistou uma tríplice coroa histórica, ganhando o título da Serie A e a Copa da Itália.

"Tive a sorte de estar em uma cidade, Verona, onde havia um centro de neurocirurgia com visão de futuro, que foi um salva-vidas para mim na época. Tive que aprender do zero a andar, a correr, não tinha pontos de referência, estava caindo. Ficou muito complicado cabecear a bola", disse Chivu.

Em busca do diploma

O ex-capitão da seleção romena disse ao longo dos anos que não tinha intenção de se tornar técnico após o fim da carreira de jogador.

Tudo aconteceu por acaso: ele estava observando alguns jogos e percebeu que era o único que não tinha formação acadêmica. Ele diz que se sentiu envergonhado e se inscreveu nos cursos de Coverciano em 2020.

"Eu estava trabalhando como observador da UEFA, indo a muitos jogos da Liga dos Campeões e sentando-me à mesa com pessoas como Alex Ferguson e David Moyes. Eu era o único não qualificado em um grupo de grandes treinadores. Por respeito e vergonha, decidi ir para a escola em Coverciano", conta. 

Sucesso na base da Inter de Milão

Primeiro, porém, Cristi Chivu obteve sua licença de treinador na Itália, em 2017. Apenas um ano após receber seu diploma, na temporada 2018/2019, ele treinou a equipe sub-17 da Internazionale de Milão, tendo treinado anteriormente a equipe sub-14 do clube.

Em 16 de setembro de 2020, o ex-jogador da seleção romena obteve sua licença UEFA Pro, depois de se formar na escola Coverciano.

Ele então assumiu a equipe Primavera da Inter em julho de 2021, com a qual conquistou o título em seu primeiro ano no comando.

Em 2023, a imprensa italiana mencionou Chivu como um possível substituto para Simone Inzaghi, que não estava passando pelos melhores momentos no banco da Inter, mas o Ajax também viu nele um técnico com potencial.

O clube holandês teria oferecido a Cristi Chivu um contrato de três anos, sendo que nos dois primeiros anos ele seria apenas assistente e depois assumiria o comando da equipe principal. Mas a oferta foi rejeitada.

Muitos desafios

Cristi Chivu enfrenta um enorme desafio no Parma, que está lutando para evitar o rebaixamento da Serie A. O romeno assumiu uma equipe à deriva, com a moral em baixa e grandes problemas defensivos após a demissão de Fabio Pecchia, quatro derrotas consecutivas e sem vencer há quase dois meses.

O romeno conta com uma das defesas mais fracas da Serie A com 46 gols sofridos. Os parmegianos também passaram apenas dois jogos sem sofrer gols sob o comando de Pecchia, o menor número da liga.

Gols sofridos pelo Parma
Gols sofridos pelo ParmaOpta

Esforço em conjunto

Chivu terá de adaptar rapidamente a equipe ao seu sistema 4-3-3 preferido, que é diferente do 4-2-3-1 usado até agora. "Todos devem participar das duas fases", disse ele em sua primeira entrevista coletiva.

"Na fase defensiva, precisamos nos defender com 11, não com 3 ou 4. Todos são responsáveis, tanto no ataque quanto na defesa. Todos têm de participar das duas fases", explicou Chivu sobre seus objetivos imediatos no treinamento.

Mas mesmo que a missão de mudar rapidamente a equipe pareça difícil, o técnico romeno tem à sua disposição o material a que está acostumado. Com uma média de idade de 23,6 anos, o Parma é o time mais jovem da Serie A.

Seu artilheiro nesta temporada, o francês Ange-Yoan Bonny (5 gols, 2 assistências), tem apenas 21 anos, enquanto no meio-campo o suíço Simon Sohm (23) também contribuiu com quatro gols.

Números ofensivos de Dennis Man
Números ofensivos de Dennis ManOpta

Além disso, Chivu também conta com os compatriotas Valentin Mihailă (25) e Dennis Man (26), o último dos quais, com quatro gols e quatro assistências, é uma das principais armas ofensivas do Parma.

É verdade que sua falta de experiência já deixou sua marca no jogo da equipe, mas se Chivu conseguir juntar rapidamente as peças do quebra-cabeça amarelo e azul, a confiabilidade que o caracterizou durante toda a sua carreira de jogador poderá, por que não, lançar as bases para uma carreira igualmente prodigiosa no banco de reservas.