Após o jogo entre Atlético-MG e Palmeiras no Mineirão, no último domingo, Abel tomou o telefone celular do jornalista e tentou (não sei se conseguiu) apagar o vídeo que era feito, de um membro da diretoria palmeirense discutindo com um integrante da arbitragem.
O produtor estava na chamada "zona mista", área permitida aos jornalistas para gravação de imagens e entrevistas.
Ele simplesmente foi em direção ao jornalista e tomou o celular de sua mão, interrompendo seu trabalho. O treinador do Palmeiras agiu como se tivesse o direito de escolher o que o jornalista deveria ou não registrar, "perdendo a mão" em sua intempestiva ação, que não acontece pela primeira vez.
Antes mesmo de começar a entrevista coletiva após o jogo, Abel tentou se desculpar. Na verdade, não foi uma tentativa, uma vez que ele mencionou a palavra "se".

"Se eu me excedi..."
Se? Isso deixa claro que ele ainda não tinha a noção do que tinha feito. Abel cerceou o trabalho de um membro da imprensa, nada além disso. Se ele acha que isso é normal, seus valores estão distorcidos.
A situação foi gravada por um outro jornalista, Henrique André, da Rádio Itatiaia. Henrique estava um pouco mais distante, mas flagrou tudo. Se ele estivesse perto, tinha a chance de também ter seu celular "confiscado" por Abel.
Abel Ferreira corre o risco de ser punido pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Imagens da polêmica já estão sob análise da procuradoria da entidade.
O treinador pode ser enquadrado no artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que prevê de um a seis jogos de suspensão por "assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva".
O português se dirigiu ao vestiário vociferando que os jornalistas queriam criar polêmica e tinham culpa pela situação do futebol brasileiro. Abel precisa saber que o papel da imprensa é buscar informações e divulgá-las quando relevantes. Não é ele quem decide o que um jornalista deve ou não gravar em uma zona mista.
Esta última situação era 100% evitável e a polêmica foi causada pel próprio treinador.

Abel chegou a afirmar que existem coisas que a imprensa não precisa saber. Se é assim, que a próxima discussão com a arbitragem aconteça em outro ambiente. Se for em uma área destinada para os jornalistas, há grandes chances de registros e nada de ilegal está sendo feito, que fique bem claro.
Esta não é a primeira vez que Abel tem atrito com jornalistas. As "patadas" tem sobrado vez e outra, faltando uma certa compreensão do técnico sobre o trabalho da imprensa, que tem todo o direito de perguntar sobre a pouca utilização de Endrick e o possível interesse do PSG em seu trabalho. Ele não precisa gostar do conteúdo que os jornalistas brasileiros produzem, mas precisa, ao menos, respeitá-los. Nem isso ele tem conseguido fazer.
Um dos primeiros incidentes veio quando jornalista elogiou seu time e recebeu a seguinte resposta: "É por isso que sou treinador e vocês jornalistas. Se quiserem, vão à CBF e façam o curso, depois sentem-se aqui no meu lugar. É isso que têm que fazer", afirmou.
Eficiente no comando do time, mas do lado de fora...
Abel é um excelente treinador, sendo cotado para dirigir a Seleção Brasileira. Mas, fora das quatro linhas, tem criado um "burburinho" desnecessário, fazendo a imprensa ter uma visão e impressão dele que diferem bastante da sua capacidade como estrategista. Tem se tornado um "mala" com frequência em atitudes desnecessárias.
Os árbitros, que costumam advertí-los com cartões amarelos e vermelhos, não devem ter opinião muito diferente, sofrendo com o temperamento do treinador, que precisa controlar melhor seus ânimos durante e após os jogos.
Informações que chegam de Portugal indicam que por lá não era muito diferente, acostumando-se a indicar os jornalistas como responsáveis ou culpados por algumas situações que não faziam muito sentido.
Abel, em boa parte dos casos, reconhece sua falha e pede desculpas, como aconteceu agora e em outra situação anterior. Louvável. Mas isso de pouco tira a impressão negativa que ele tem deixado com alguma frequência fora dos gramados. É hora de rever seus conceitos e controlar melhor a cabeça quente.