Juan Sebastián Verón: símbolo do Estudiantes campeão e adversário da AFA

Verón viu da arquibancada o Estudiantes se consagrar campeão
Verón viu da arquibancada o Estudiantes se consagrar campeãoLuis SANTILLÁN / AFP

Reconhecido há alguns anos como um jogador habilidoso e de nível europeu, Juan Sebastián Verón sempre esteve ligado ao Estudiantes de La Plata, o clube com o qual acaba de comemorar o primeiro título da liga em 15 anos, desta vez como presidente.

O sucesso esportivo do Pincha, no entanto, não é o único motivo que coloca La Brujita sob os holofotes. Ele também se destacou como o maior opositor da poderosa Associação do Futebol Argentino (AFA), entidade que comanda o futebol no país.

Ídolo do time de La Plata, o ex-meio-campista da Albiceleste e do Manchester United defende uma visão de futebol diferente da AFA sob o comando de Claudio "Chiqui" Tapia, que conquistou a Copa do Mundo com a Argentina em 2022.

Em sua primeira gestão como presidente do Estudiantes (2014-20), iniciada poucos meses após se aposentar como jogador, inaugurou o estádio UNO, com capacidade para 32.500 torcedores. Depois de atuar como vice-presidente, voltou à presidência em 2024.

No papel de dirigente, Verón tem se mostrado inovador em vários aspectos, implementando políticas de gênero, modernizando e profissionalizando o clube e buscando alternativas financeiras para fortalecer a instituição, tetracampeã da Copa Libertadores da América.

Disputa política com apoio de Milei

Entre essas iniciativas, o argentino propôs no ano passado um modelo de gestão mista para os clubes, sem necessariamente abrir caminho para as Sociedades Anônimas do Futebol (SAF), mas permitindo que os times deixassem de ser apenas entidades sem fins lucrativos.

A proposta previa a possibilidade de captar investimentos, e para isso iniciou conversas com o empresário Foster Gillett, que teve passagem polêmica pelo Liverpool, da Inglaterra. A iniciativa fracassou, mesmo contando com o apoio do presidente argentino, o ultraliberal Javier Milei, pois encontrou forte resistência da maioria dos outros clubes e da própria AFA.

"Tivemos conversas, mas nunca conseguimos chegar a um acordo", admitiu Verón, que estreou como profissional no clube e retornou após uma carreira vitoriosa na Europa.

Na volta, conquistou em 2009 a quarta Libertadores do clube, feito que o consolidou como lenda do Pincha, um direito herdado desde o nascimento, já que é filho do falecido ex-atacante Juan Ramón "La Bruja" Verón, que participou das outras três conquistas da Libertadores.

Mas a tentativa de mudar o funcionamento dos clubes não foi o único atrito com a principal autoridade do futebol argentino.

Desafio na final

O ex-jogador viveu um momento ainda mais tenso em novembro, quando a AFA proclamou o Rosario Central, de Ángel Di María, como campeão anual, sem respaldo no regulamento, e o Estudiantes denunciou que "não houve" votação dos clubes para apoiar a decisão.

Para piorar, os dois times se enfrentariam poucos dias depois nas oitavas de final do torneio Clausura, e o Estudiantes foi obrigado pela AFA a fazer o corredor de honra para o Central como novo campeão anual.

Mas o elenco do Pincha virou de costas durante a passagem dos rivais, o que resultou em punição disciplinar da AFA para alguns jogadores e para Verón, suspenso por seis meses de qualquer atividade ligada ao futebol.

Mesmo assim, La Brujita desafiou novamente a entidade e, no sábado, foi ao estádio Madre de Ciudades, em Santiago del Estero, para apoiar o time na final contra o Racing, vencida por 5 a 4 nos pênaltis, após empate de 1 a 1 no tempo regular. Impedido de ir ao camarote, ficou na arquibancada com milhares de torcedores: "Oh, não sou secanucas, sou soldado da Bruja", cantaram.

Após a conquista, o elenco levou o troféu para a arquibancada, um prêmio entregue pelo próprio Tapia, que parabenizou publicamente o novo campeão.

"Significa muito. Para ser sincero, não esperava, não era algo necessário, e agradeço porque lembraram de mim", disse Verón.

O ídolo afirmou que o episódio do Rosario Central serviu para que os jogadores encontrassem "um motivo" para buscar o título, o primeiro no campeonato desde 2010.

"Isso me faz refletir e perceber que as coisas boas sempre prevalecem sobre as ruins. Tenho isso muito claro e guardado comigo", afirmou o presidente do campeão da Argentina.