Sete candidatos competem para se tornar a pessoa mais poderosa na governança esportiva global e substituir Bach, que vai deixar o cargo após um mandato turbulento de 12 anos, no qual teve que lidar com a Covid-19 e um escândalo de doping russo, bem como a invasão da Rússia na Ucrânia.
"Acho que esta é a eleição olímpica mais importante em quase meio século. Alguns membros do COI acham até que o futuro do Movimento Olímpico está em jogo", disse Michael Payne, ex-chefe de marketing do COI, à AFP.
Payne, que em quase duas décadas no COI foi fundamental para renovar a marca e as finanças por patrocínios, enfatizou que o Movimento "nunca esteve tão forte" graças, em parte, aos "talvez melhores Jogos de todos os tempos", em Paris, no ano passado.
Perspectiva geopolítica difícil
O ex-dirigente afirmou que o futuro do COI está repleto de riscos, já que a organização não enfrentou um cenário geopolítico tão complicado em muitos anos.
"O COI navega em um mundo político cada vez mais fragmentado, mantendo a universalidade e se envolvendo com um mercado de marketing em rápida evolução. Saber lidar com este contexto definirá o futuro do Movimento", advertiu.
Martin Sorrell, que fundou a gigante da publicidade WPP e atuou na Comissão de Comunicações do COI, acredita que o próximo presidente precisará de um conjunto específico de habilidades, uma vez que há "imensa volatilidade no mundo". O sucessor de Bach terá que lidar com as imprevisíveis mudanças de humor do presidente dos EUA, Donald Trump, nos Jogos de Los Angeles, em 2028.
"O próximo presidente do COI terá que ter habilidade política, tato, temperamento forte e pulso firme. O próximo presidente terá que ser capaz de ir à Casa Branca e mostrar a cara. Ele também terá de ser calmo sob pressão, pois há três grandes desafios geográficos e geopolíticos pela frente: Rússia-Ucrânia, China e Oriente Médio com o Irã", explicou Sorrell.
Noites sem dormir
Para outro ex-executivo de marketing do COI, Terrence Burns, o próximo presidente deve estar preparado para enfrentar o desafio das disputas por poder.
"São inclinações dos políticos para usar os Jogos Olímpicos como uma ferramenta política. Acho que o próximo presidente do COI deve passar no que chamo de 'teste da conferência de imprensa conjunta', ou seja, quem você pode imaginar sentado na frente ou ao lado dos atuais líderes mundiais e manter a compostura?", opinou.
Embora Payne acredite que Trump será "incrivelmente favorável" à realização dos Jogos de Los Angeles, ele prevê "noites sem dormir" para o próximo presidente.
"O COI deve permanecer independente e acho que isso será cada vez mais desafiador. A política externa de Trump e ordens executivas repentinas durante a contagem regressiva para os Jogos podem criar problemas", analisou.
"Ele precisará ter habilidades diplomáticas e políticas especiais, além de agilidade para garantir que todas as 205 nações cheguem a Los Angeles em 2028 protegidas pela universalidade do Movimento Olímpico", garantiu.
Revolução tecnológica
Terrence Burns, que desde que deixou o COI foi membro de seis candidaturas olímpicas bem-sucedidas, declarou que não é possível subestimar as mudanças políticas e tecnológicas, que vão desafiar o novo presidente.
"A Inteligência Artificial está, não provavelmente, mas certamente, revolucionando tudo, desde a educação até a governança. Há alguns anos, o edifício econômico e geopolítico estável que inaugurou o mundo moderno e pacífico era um dado adquirido. Agora não é mais", disse o inglês de 80 anos.
De acordo com Burns, esse cenário aumenta a pressão sobre os desafios que o sucessor de Bach terá pela frente.
"Tudo isso para dizer que o próximo presidente do COI enfrentará desafios, bem como o ritmo deles, que seus antecessores jamais poderiam ter imaginado. Então, sim, esta eleição é um grande acontecimento no mundo olímpico e para o esporte global em geral", declarou.