Samaranch Junior disse que, durante seus anos como vendedor, "não sabia diferenciar lavanda de limão", mas o espanhol de 65 anos diz que o trabalho lhe ensinou métodos de negócios.
Décadas depois, em março de 2025, as lições aprendidas poderão valer a pena se ele superar os outros seis candidatos na eleição para suceder Thomas Bach como o homem mais poderoso do esporte mundial.
Se for bem-sucedido, Samaranch Junior fará história, pois seu pai, de mesmo nome, já foi presidente do COI entre 1980 e 2001 e transformou a organização em uma potência comercial.
Samaranch Junior foi eleito para o COI no mesmo ano em que seu pai se afastou, mas ele disse que "nunca esperou que sua família ajudasse no desenvolvimento de sua carreira olímpica" e que, pelo contrário, ela poderia ser "usada contra" ele.
Desde sua chegada, ele construiu uma carreira de sucesso no COI, sendo eleito vice-presidente em 2012, além de ocupar outros cargos de alto nível.
Depois de mais de duas décadas na instituição, o que ele pode prometer aos membros e ao resto do mundo se assumir a presidência?
"Experiência, perspectiva, julgamento e colaboração", disse ele, acrescentando que "será preciso muita experiência e perspectiva para entender quais lutas você deve enfrentar e quais não deve. Não dá para ganhar todas, então é preciso escolher bem.
"É preciso ter em mente que o presidente do COI precisa estar no mesmo nível de gigantes como os Estados Unidos, a China, a União Europeia e a Índia, e por isso é preciso ter bom senso para sentar-se à mesa", avaliou. "Por fim, você não pode fazer isso sozinho, então a colaboração é importante", diz.
Pai de quatro filhos, Samaranch Jr. teve uma carreira bem-sucedida no setor bancário depois de sua aventura em perfumes, e precisará dessas qualidades com os desafios que poderá ter de enfrentar.
O retorno da Rússia
A Rússia continua sendo um dos tópicos mais quentes, já tendo impactado os primeiros anos da presidência de Bach por causa do escândalo de doping das Olimpíadas de Inverno de 2014 e da invasão da Ucrânia em 2022, que quebrou a trégua olímpica ao começar entre as Olimpíadas de Inverno e as Paralimpíadas de Pequim.
Samaranch disse que entende o alto nível emocional externo ao COI em relação à consulta sobre se a Rússia deve retornar ao mundo esportivo, dias depois que o ministro dos esportes ucraniano Matviy Bidny disse à AFP que o sucessor de Bach deveria dar as costas à Rússia.
No entanto, Samaranch disse que assim que os russos cumprirem suas obrigações com a Carta Olímpica, o que não é o caso atualmente, "teremos que tentar trazer de volta o Comitê Olímpico Russo".
"O universo, o mundo é muito complexo, e há maneiras muito diferentes de ver as coisas", explicou ele. "Precisamos de uma bússola moral. Não podemos simplesmente tomar uma decisão para a direita e depois decidir ir para a esquerda, dependendo de nossos sentimentos pessoais ou de qualquer outra coisa. Nossa bússola moral é a Carta Olímpica", disse ele.
Sobre a Rússia, Samaranch disse que a prioridade do COI era "defender os jovens e os atletas dos problemas que poderiam surgir das atitudes ou ações de seus governos".
Ele também disse que a faísca que acendeu seu pavio foi a "mágica" dos Jogos de Paris deste ano.
Uma das poucas controvérsias durante as Olimpíadas foi no boxe, em que Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-ting, de Taiwan, ambas medalhistas de ouro, envolveram-se em controvérsias sobre seu gênero. Embora ambas tenham sido impedidas de participar do campeonato mundial do ano passado, organizado pela Associação Internacional de Boxe (IBA), favorável ao Kremlin, o COI deu sinal verde para sua participação em Paris.
Samaranch defende a posição da instituição e ataca o "assédio terrível que sofreram nas mídias sociais", acrescentando que tem "orgulho de ter estado ao lado delas e de continuar ao lado delas". Ele diz, no entanto, que o caso das atletas transgêneros é uma "questão diferente" e acrescenta que "temos que proteger 100% a segurança e a igualdade de condições nas competições femininas".
Ele também aponta para a estatística do aumento da participação feminina, de 4% para 50%, comparando os Jogos de 2024 e os Jogos de 1924, que também foram realizados em Paris. "É uma conquista notável, não para nós, mas para a sociedade", disse ela. "Se eu me tornar presidente, não estou preparada para aceitar ou permitir um retrocesso nessa grande conquista."