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Transplantados: o time de futebol que promove a doação de órgãos no Chile

Equipe chilena posa com troféu de campeões mundiais
Equipe chilena posa com troféu de campeões mundiaisRODRIGO ARANGUA / AFP

O sonho de Héctor Sánchez de se tornar um jogador de futebol foi interrompido por uma doença hepática. Dois implantes lhe deram a oportunidade de renascer e poder jogar para promover a doação de órgãos no Chile, um país com uma taxa de transplantes baixa.

Ao lado de cerca de 20 outros receptores de transplante - a maioria de órgãos renais - Sánchez formou um time amador de futebol conhecido como "equipe transplantados do Chile". Em setembro, o grupo venceu a primeira Copa do Mundo de Futebol de transplantados, na Itália.

Apesar de ter uma lei desde 2010 que incentiva a doação, o Chile tem uma baixa taxa de transplantes: 10 por milhão de habitantes. O número é a metade do líder da região, o Uruguai, com 19,7 por milhão. Também, muito atrás de países como a Argentina (18) e o Brasil (17), de acordo com dados do Ministério da Saúde do Chile.

Chile vence a primeira edição da Copa do Mundo para transplantados
Chile vence a primeira edição da Copa do Mundo para transplantadosRiccardo Gallini / GRPhoto

Sete anos depois de passar por um segundo transplante de fígado, após o fracasso do primeiro, Héctor Sánchez usa uma camiseta vermelha com a mensagem: "O Chile é um país doador". Promover a doação de órgãos por meio do esporte é a maneira que o vendedor de carros, de 31 anos, tem de agradecer por essa "segunda chance na vida".

"Se não fosse pelo transplante, talvez eu não estivesse aqui. No momento em que você entra em campo, esquece tudo, sou uma pessoa normal, sou a pessoa mais feliz", diz Sánchez, depois de uma partida contra uma instituição de caridade em Santiago.

Apesar das grandes cicatrizes que os atletas carregam, quando a bola rola no gramado, eles correm atrás dela sem maiores preocupações e sem proteção especial na área transplantada.

"Eles só precisam se cuidar como qualquer outra pessoa que pratica esportes e se hidratar", explica Ruth Leiva, chefe da Unidade de Transplante do Hospital San José, na capital Santiago.

Torneio foi disputado na Itália em setembro de 2024
Torneio foi disputado na Itália em setembro de 2024Reprodução/ deportistastrasplantadoschile

Promovendo a doação

Cerca de 2.200 pessoas estão esperando por um órgão no Chile atualmente. O número de transplantes não aumentou significativamente com a promulgação da lei que estabelece que todas as pessoas com mais de 18 anos de idade sejam doadoras em caso de morte ou com as campanhas de comunicação do Estado.

O mundial de futebol faz parte dos Jogos Mundiais de Transplantes
O mundial de futebol faz parte dos Jogos Mundiais de TransplantesReprodução/ deportistastrasplantadoschile

Isso se deve principalmente à oposição das famílias dos possíveis doadores, que podem se recusar a entregar os órgãos depois que a morte for declarada. A médica Ruth Leiva explica que, apesar da legislação chilena ser avançada em comparação a América do Sul, não há muita conscientização sobre a doação.

"Muitas pessoas acreditam que (o cadáver) terá seus olhos arrancados depois de ser um doador (...) e que não poderão cuidar dele", explica.

Apesar de ter sido proibido pelos médicos que o tratavam de uma má formação no fígado, que o impedia de funcionar normalmente, Sánchez não parou de jogar futebol quando criança. O fígado o complicou desde o nascimento. Antes de completar um ano de idade, teve que se submeter a uma cirurgia e a família recebeu uma ordem clara dos médicos: era preciso substituir o órgão.

O time chileno busca promover a doação de órgãos no país pelo futebol
O time chileno busca promover a doação de órgãos no país pelo futebolReprodução/ deportistastrasplantadoschile

Héctor só conseguiu realizar o transplante aos 24 anos, e depois teve que repetir o procedimento. O primeiro órgão falhou e ele ficou em tratamento intensivo por oito meses. O segundo transplante foi bem-sucedido e os médicos lhe disseram que ele poderia levar uma vida normal.

Sete anos depois, Sánchez vive a glória. Em 13 de setembro, conquistou o mundial para pacientes transplantados depois de terminar o torneio invicto e vencer a Espanha por 5 a 1 na final.

"Defender o Chile em uma Copa do Mundo e jogar contra outros países é algo com que sempre sonhei", disse.