30 anos sem Ayrton Senna: como o piloto se tornou o maior ídolo do Brasil

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30 anos sem Ayrton Senna: como o piloto se tornou o maior ídolo do Brasil

Os 30 anos sem Ayrton Senna não diminuem a paixão do brasileiro com o ídolo
Os 30 anos sem Ayrton Senna não diminuem a paixão do brasileiro com o ídoloAFP
Não há brasileiro que estivesse vivo no dia 1º de maio de 1994 e que não se lembre onde estava quando recebeu a notícia da morte de Ayrton Senna. A data que completa 30 anos nesta quarta-feira (1º) é, sem dúvida, um dos maiores traumas coletivos da história do Brasil.

Ayrton Senna transcendeu o esporte e se tornou um dos nomes mais importantes do país em todos os tempos. Mesmo quase três décadas depois de sua morte, é figura frequente nas conversas de quem o viu competir e de quem sequer era nascido.

Como um piloto de Fórmula 1 cristalizou sua imagem de forma eterna em seus compatriotas? Senna é, de fato, o maior ídolo esportivo da história do Brasil? O Flashscore lista alguns motivos para tamanha idolatria.

Talento puro

O Brasil já possuía muita história na Fórmula 1 quando Ayrton Senna surgiu e chegou à principal categoria do automobilismo mundial. Emerson Fittipaldi foi pioneiro e mostrou que era possível um brasileiro alcançar o topo do mundo. Nelson Piquet veio em seguida e, com muita perspicácia e trabalho, superou seu antecessor.

Senna já chamou a atenção do mundo na Toleman e na Lotus
Senna já chamou a atenção do mundo na Toleman e na LotusAFP

Com o caminho pavimentado pelos dois e por tantos outros, Senna apresentou talento puro e isso encantou seu povo. Acostumado a admirar a habilidade nata dos seus jogadores de futebol, o torcedor brasileiro criou uma identificação imediata com Ayrton, mesmo antes de seus títulos.

Dois episódios no começo de carreira iniciaram essa relação. O primeiro foi o Grande Prêmio de Mônaco de 1984, quando quase venceu, pela Toleman, embaixo de um dilúvio no Principado. Já o segundo foi o Grande Prêmio de Portugal de 1985, um Grand Chelem sob chuva para conquistar sua primeira vitória.

Senna ali, no início de carreira, já tinha torcida fiel mesmo concorrendo com outros grandes campeões em seu país.

O anti complexo de vira-lata

É inegável que os brasileiros sempre sofreram de certo sentimento de inferioridade com relação aos países desenvolvidos, sobretudo europeus e norte-americanos. O “complexo de vira-latas”, expressão criada pelo escritor Nelson Rodrigues para explicar as derrotas no futebol pré-Copa do Mundo de 1958, dava o tom disso.

Senna, no entanto, sempre se apresentou como a antítese desse pensamento. Brasileiro de família rica, sim, Ayrton nunca se abalou dentro do espinhoso mundo da Fórmula 1. Bateu de frente com pilotos, chefes de equipe e dirigentes, sempre exaltando a sua nacionalidade.

A rivalidade com Alain Prost criou uma imagem mítica de Senna
A rivalidade com Alain Prost criou uma imagem mítica de SennaProfimedia

Isso criou uma relação fortíssima entre ele e os brasileiros. O principal ponto de orgulho, sem dúvida, foi a sua rivalidade com Alain Prost. Ver um compatriota rivalizar com o francês, já bicampeão do mundo e batê-lo, elevou a auto-estima de todos.

Momentos de heroísmo

O contexto do Brasil em seu auge é outro fator que explica o tamanho que Senna ganhou nessas terras. Saindo de uma ditadura de 21 anos, quebrado economicamente e com pouca perspectiva de futuro, os feitos do piloto em circuitos pelo mundo foram uma imensa válvula de escape.

Para elevar ainda mais os momentos de alegria, Senna fez coisas incríveis e criou uma série de símbolos que perduram até hoje. O primeiro ato talvez tenha sido o Grande Prêmio do Japão de 1988. A corrida que lhe deu o primeiro título mundial aconteceu de forma épica. O carro 12 da McLaren teve problemas na largada e Senna caiu para o meio do grid. Ele o escalou até a ponta, venceu a prova e conquistou seu grande sonho.

Porém, as demonstrações de quase heroísmo encontraram seu ponto máximo no Grande Prêmio do Brasil de 1991. Sem nunca ter vencido em casa, Senna construiu uma das grandes memórias afetivas de seu povo em Interlagos.

Mesmo com problemas em seu carro no fim da prova, ele resistiu para cravar a vitória. O pós-corrida, com imagens dele extenuado no pódio, aumentou muito o tamanho de sua figura.

Além disso, todo o trabalho feito pela TV Globo com as narrações de Galvão Bueno e o uso da música da vitória, criaram algo até hoje lembrado por quem viveu aquela época.

Seca no futebol

O automobilismo nunca foi o esporte mais popular do Brasil. Esse posto sempre foi e provavelmente sempre será do futebol. 

No entanto, o cenário do futebol brasileiro no fim das décadas de 1980 e início dos anos 1990 era de terra arrasada. Já distante do tricampeonato em 1970, o Brasil amargava seca e derrotas traumáticas em Copas do Mundo. Sobretudo as quedas para Itália em 1982 e França em 1986.

Nessa última, Senna deu demonstração fortíssima do espaço que ocuparia no esporte brasileiro. Um dia depois da queda brasileira na Copa do Mundo do México, ocorreu o Grande Prêmio de Detroit, nos Estados Unidos.

À época na Lotus, o piloto corria com motor Renault e tinha uma equipe formada basicamente por franceses. Em resposta à derrota no futebol, Ayrton fez questão de pegar uma bandeira do Brasil em sua volta da vitória e iniciou assim uma tradição de sua carreira.

A retribuição ao ídolo nacional veio cerca de dois meses após a sua morte, em 1994. No campo do Rose Bowl, após a vitória do Brasil sobre a Itália na final da Copa do Mundo, os jogadores da Seleção abriram uma faixa em homenagem ao piloto.

Morte trágica

O dia 1º de maio de 1994 é uma das datas mais tristes da história do Brasil. Desde o trágico acidente na curva Tamburello, em Ímola, até a confirmação da morte em um hospital de Bolonha, o país inteiro viveu angústia que não teve fim.

São milhões de relatos até hoje, 30 anos depois, de pessoas que sofreram a perda de Ayrton Senna como se fosse alguém da família. Algumas escolas suspenderam suas aulas no dia 2 de maio devido a comoção e, de fato, o Brasil entrou em estado de luto.

Senna no carro da Williams antes do GP de San Marino
Senna no carro da Williams antes do GP de San MarinoAFP

A grande confirmação se deu no velório de Senna, no dia 5 de maio, em São Paulo. Mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas da metrópole para a última homenagem ao ídolo.

Na capital paulista, cidade natal do piloto, ainda é muito comum que se encontre homenagens ao tricampeão mundial de F1. Existem muitas artes, sobretudo próximo ao autódromo de Interlagos. A memória de Ayrton Senna ainda é algo vivo nos brasileiros.

Arte com o rosto de Ayrton Senna em São Paulo
Arte com o rosto de Ayrton Senna em São PauloProfimedia