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OPINIÃO: Globo vende NFL até no Jornal Nacional e manipula telespectador

O Brasil tem milhares de novos consumidores para a NFL
O Brasil tem milhares de novos consumidores para a NFLAFP
A primeira vez que a NFL apareceu no Jornal Nacional da TV Globo foi provavelmente em 27 de janeiro de 1997. De lá para cá, o esporte estadunidense – que não é do interesse público brasileiro – desapareceu da principal emissora do país, mas tudo mudou nesta semana.

Em 1997, o futebol americano chamou a atenção do editor-chefe William Bonner por conta de um recorde no Super Bowl XXXI e das imagens da festa do título.

Confira a tabela completa da NFL

Aquela foi a temporada em que o Green Bay Packers conquistou o Super Bowl pela 1ª vez em quase três décadas, e a cidade do time verde-amarelo foi à loucura. Além disso, o JN contou que aquele Super Bowl teve uma jogada insólita – o primeiro touchdown de retorno de kick off na história (99 jardas!).

A notícia apareceu no final da edição do Jornal Nacional, durou poucos segundos, e foi escolhida certamente pela falta de pauta no esporte brasileiro naquele dia (era fim de janeiro), mas também pelas belas imagens e os fatos curiosos da partida e da comemoração.

Nesta sexta-feira (5), porém, tudo foi diferente – e estratégico. O JN colocou no ar uma matéria de 2 minutos explicando tim-tim por tim-tim como funciona o esporte.

Mezzo educativo, mezzo peça de marketing, o vídeo foi produzido dias após o grupo Globo anunciar a compra dos direitos de transmissão da NFL para o Brasil.

O site Globo Esporte também passou, do nada, a dar mais destaque para partidas da NFL em sua página principal.

Tudo não porque o futebol americano de repente é um esporte de massa no País, mas sim por uma questão obviamente mercadológica.

A intersecção entre escolhas editoriais e comerciais é mais velha do que andar para frente. Mas é sempre bom lembrar que jornalismo precisa de independência.

Quando Globo e ESPN utilizam seus veículos noticiosos para vender mais assinatura da SporTV ou Disney+ – sem explicar o porquê de tal cobertura "jornalística" – eles estão tentando manipular seu público.

Embora pareça inofensiva, é uma prática intelectualmente desonesta.

>> NFL quebra recorde de público no Brasil e chefão da liga revela futuro dos jogos no país

A Globo ignorou por décadas a NFL por se tratar de um "produto” da concorrência. Uma provável exceção foi janeiro de 1999, quando o SporTV comprou os direitos do Super Bowl XXXIII – em uma transmissão que foi notoriamente problemática (deu pau na imagem durante muitos minutos de bola rolando).

Em 97, não havia ainda uma estratégia de vender a NFL para brasileiros, mas quando assisti à matéria do triunfo dos Packers no JN, fiquei curioso e fui atrás para saber mais. Achei a ESPN, e virei um torcedor do Denver Broncos na infância. A prática, que na época foi honesta e inocente, funcionou.

Agora, com a NFL bastante ciente que o Brasil é uma mina de ouro, você vai ver a bola oval em todo lugar. E veremos uma avalanche de novos adeptos.

Enquanto o governo atual dos Estados Unidos boicota as exportações brasileiras, a liga americana assiste ao JN feliz da vida.