Longevidade de um treinador ganha jogo? Confira levantamento

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Longevidade de um treinador ganha jogo? Confira levantamento

Em sua 4ª passagem pelo Grêmio, Renato é um dos técnicos mais longevos na Série A
Em sua 4ª passagem pelo Grêmio, Renato é um dos técnicos mais longevos na Série AFabio Menotti/Palmeiras
O debate sobre a longevidade dos treinadores de futebol em um mesmo clube, algo recorrente no Brasil, também começa a se espalhar pelos principais campeonatos do mundo. E ganha peso até em seleções nacionais. Afinal, Lionel Scaloni, com dois anos e meio de trabalho, tirou a Argentina de um jejum de 40 anos em Copas do Mundo.

De uma competição de alto nível para outra, na Champions League, os dados recentes também indicam que, com pouco tempo em um time, já se consegue ir longe. Nas últimas 10 edições do torneio, apenas Jürgen Klopp e Pep Guardiola não venceram a principal competição entre clubes do mundo em seus primeiros anos de trabalho, respectivamente, à frente do Liverpool e do Manchester City.

Imagine se eles tivessem sido defenestrados por causa disso...O treinador catalão, é fato, havia conseguido a façanha antes, com o Barça. 

Entram na lista de quem chegou e já levantou o caneco: Carlo Ancelotti (na anterior e na atual passagem pelo Real); Luis Enrique (Barcelona), Zinédine Zidane (Real Madrid), Hans-Dieter Flick (Bayern) e Thomas Tuchel (Chelsea).

Na temporada atual, entre os times que ainda estão na competição, apenas dois técnicos podem ser campeões em seus primeiros anos de clube. E nenhum deles será inédito: Tuchel pelo Bayern ou Luis Enrique pelo PSG.

Luis Enrique foi campeão da Champions pelo Barça no seu primeiro ano de clube
Luis Enrique foi campeão da Champions pelo Barça no seu primeiro ano de clubeAFP

Prazo ou grana?

São duas provas de que trabalho de curto prazo é o melhor para competições de mata-mata? Ou a resposta mais acertada, seja na Europa, ou em qualquer outra parte do mundo, passa pelo dinheiro para as contratações para turbinar o nível do elenco? 

“Vou contar um segredo, o principal é a qualidade dos jogadores. Quando você disputa Premier Leagues consecutivas, sempre há uma dúvida sobre o espírito de trabalho. Mas não há tempo para refletir. A cada três dias temos um jogo", explicou Guardiola em outubro de 2022.

Guardiola indica qualidade dos jogadores como fator primordial para o sucesso de um clube
Guardiola indica qualidade dos jogadores como fator primordial para o sucesso de um clubeAFP

"Mas quando dá tempo de refletir um pouco, dá para dizer que o trabalho só funciona com jogadores que sejam capazes de cumprir, dentro de campo, com os planos que foram traçados. O sucesso que tivemos é por causa dos jogadores de ponta", completou. Desde então, o treinador do City bate na mesma tecla. 

O fator “grana” para comprar talentos é o ponto central da tese defendida pelo pesquisador inglês Stefan Szymanski, radicado nos Estados Unidos, como fator de desequilíbrio de uma liga.

No livro Soccernomics, em que ele é um dos autores, um dos argumentos é que os treinadores não são tão importantes assim. “A maior parte da variação no desempenho de um campeonato pode ser explicada pelos gastos salariais”, segundo o cientista. Os pesquisadores, na obra, desenvolveram um modelo estatístico específico para enfrentar o problema.    

O que pesa a favor da maioria dos treinadores de grandes times, que normalmente chegam e já ganham, é a chamada “liderança transformacional”, afirma Israel Teoldo, coordenador do curso de especialização em futebol da Universidade Federal de Viçosa.

Jogadores já destacaram capacidade de Renato Portaluppi de ter o grupo nas mãos
Jogadores já destacaram capacidade de Renato Portaluppi de ter o grupo nas mãosLucas Uebel/Grêmio

Segundo o professor, que tende a concordar em parte com a tese do autor de Soccernomics, com o tempo cada vez mais curto diante da pressão por resultados positivos urgentes – vide o breve trabalho de Fernando Diniz na Seleção Brasileira – ter experiência prévia para transformar o ambiente em algo positivo, para que os resultados fluam, é essencial. 

“É evidente que o orçamento é importante, assim como o tempo de trabalho, para que o treinador consiga entender e conhecer os jogadores e fazer todos funcionarem da melhor forma possível”, explica Teoldo, especialista habituado em palestrar para treinadores brasileiros e internacionais em eventos da CBF e da CONMEBOL. 

Orçamento e tempo de trabalho são aliadas do sucesso palmeirense
Orçamento e tempo de trabalho são aliadas do sucesso palmeirenseFabio Menotti/Palmeiras

Outras premissas básicas, como gestão do clube e do departamento de futebol, também são pilares importantes dentro do futebol, um esporte em que, lembra o pesquisador, a taxa de sucesso é normalmente baixa, em comparação com o basquete e o vôlei. A magia, na maioria das vezes, explica uma parte pequena de uma conquista. 

“Não sou David Copperfield. É sobre trabalho. Sinto-me completamente no lugar certo. Me sinto bem, gosto de trabalhar e ainda estou aprendendo sobre tudo”, afirmou Klopp, há oito anos, quando acabara de chegar ao Liverpool para, então, fazer história. É um sinal, assim como defende Guardiola, que a magia fica só dentro das quatro linhas?

Cultura nacional

No Brasil, os números de trocas de treinadores durante a Série A continuam chocantes, o que dá a real dimensão da máquina de moer carne que se tornou o futebol nacional. O ano de 2003, o primeiro dos pontos corridos, é o que ainda detém o recorde. Foram 40 mudanças de técnicos naquele ano.

Depois disso, ficaram acima das 30 trocas os campeonatos de 2004 (38); 2005 (37); 2015 (32); e 2010 (31).

Na Série A 2024, sete clubes estão com o treinador há mais de um ano no posto. Por ordem de chegada: Palmeiras (Abel Ferreira); Fortaleza (Juan Pablo Vojvoda); Criciúma (Cláudio Tencati); Fluminense (Fernando Diniz); Grêmio (Renato Gaúcho está na quarta passagem); Bragantino (Pedro Caixinha) e Vitória (Léo Condé).

Cláudio Tencati levou Criciúma à Série A do Brasileirão
Cláudio Tencati levou Criciúma à Série A do BrasileirãoCelso da Luz/Criciúma EC

O recorte brasileiro, segundo o treinador Fernando Diniz, não pode ser desconectado do que ocorre em outras partes do mundo, principalmente por um motivo. “Temos que dar as cores necessárias para colocar a realidade como ela é. A questão do orçamento é importante não apenas aqui, mas no mundo todo", ponderou.

"No Brasil, temos 12 camisas pesadas, e tem-se a ideia de que estão todas na mesma prateleira no início do campeonato. Mas não estão. Com a diferença grande de recursos para comprar jogadores entre os times, temos que equalizar isso com o trabalho coletivo, feito por muita gente com várias mãos, e pelo apoio do torcedor”, declarou o atual treinador do Fluminense, em março.

Diniz vai completar dois anos de Flu no dia 30 de abril de 2024
Diniz vai completar dois anos de Flu no dia 30 de abril de 2024Lucas Merçon/Fluminense FC

Tecnologia como aliada

Entre orçamentos e gestões profissionais distintas, atalhos para que os jogadores saibam o que devem fazer dentro das quatro linhas é um caminho moderno de aperfeiçoamento do futebol de alto nível, segundo Teoldo.

“Costumo brincar que estamos olhando para o futebol que vai existir em cinco ou 10 anos. Estamos desenvolvendo um sistema que deverá ser usado pelo Manchester United, que vai estimular o entendimento cognitivo tático dos jogadores, a partir da tecnologia, da realidade virtual”, explica o pesquisador brasileiro.

Caixinha falou recentemente sobre dificuldade de leitura de jogo por parte do jogador brasileiro
Caixinha falou recentemente sobre dificuldade de leitura de jogo por parte do jogador brasileiroAri Ferreira/Red Bull Bragantino

Ao aprender tática via tecnologia, sem necessidade de ir ao campo de treino, o jogador usará menos seu potencial físico fora das partidas que valem pontos. “Todo o potencial será usado quando for para valer. Lesões e problemas musculares vão cair”, afirma Teoldo. 

O que leva à potencialização de um ciclo já presente hoje. Dinheiro leva a mais tecnologia, que leva a mais evolução, porque o elenco será montado com jogadores de alto nível, com boa expertise, que poderão usar sua inteligência, habilidade e criatividade para empurrar a bola para o fundo das redes.

“As questões física, técnica, tática e mental continuam sendo nucleares. Assim como orçamento e gestão, de uma forma ampla. O City passou a ter condições de ganhar Champions e Premier League quando, por exemplo, vários desses pilares foram construídos”, afirma o pesquisador da Federal de Viçosa. Sendo o dinheiro em caixa, inclusive para contratar Pep Guardiola, o mais forte deles.

Trocas de técnicos no Brasileirão na era dos pontos corridos

2003: 40

2004: 38

2005: 37

2006: 27

2007: 24

2008: 27

2009: 23

2010: 31

2011: 22

2012: 20

2013: 24

2014: 23

2015: 32

2016: 25

2017: 23

2018: 29

2019: 26

2020: 28

2021: 21

2022: 23

2023: 22

Treinadores que ganharam a Champions no 1° ano de clube

(Entre parênteses a data de início do contrato)

2014 - Carlo Ancelotti - Real Madrid (1°/7/2013) - sim

2015 - Luis Enrique - Barcelona (1°/7/2014) - sim

2016/17/18 - Zinédine Zidane - Real Madrid (4/1/2016) - sim

2019 - Jurgen Klopp - Liverpool (8/10/2015) - não

2020 - Hansi Flick - Bayern (3/11/2019) - sim

2021 - Thomas Tuchel - Chelsea (26/1/2021) - sim

2022 - Carlo Ancelotti - Real Madrid (1°/7/2021) - sim

2023 - Pep Guardiola - Manchester City (1°/7/2016) - não (mas havia ganho antes no Barça)