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Confira entrevista com Lucas Moraes, piloto brasileiro que fez história no Rally Dakar

Apesar da juventude, Lucas mostrou espírito e cabeça de um piloto bastante rodado
Apesar da juventude, Lucas mostrou espírito e cabeça de um piloto bastante rodadoMarcelo Maragni - Red Bull
Aos 32 anos, o piloto brasileiro Lucas Moraes conseguiu um feito que tem tudo para demorar para ser repetido. Ser novato no Rally Dakar e terminar no pódio é uma conquista e tanto, atingida por pouquíssimos pilotos. Apesar da juventude, ele mostrou espírito e cabeça de um piloto bastante rodado para chegar longe no rally mais difícil do mundo. Ao seu lado, o navegador alemão Timo Gottschalk, que teve participação decisiva no resultado final, contribuindo com sua experiência e criando um ambiente favorável para os dois irem muito mais longo do que pensavam.

Nesta entrevista exclusiva concedida ao Flashscore, Lucas fala das ambições antes da prova, dos momentos mais complicados e das expectativas após um resultado histórico. Confira!

Tinha meta de resultado?

O primeiro objetivo era terminar a prova. As estatísticas não são muito favoráveis com os estreantes, apenas 50% conseguem chegar ao fim. Tínhamos um carro e equipe fortes e um navegador experiente. Com base nisso, sabíamos que estar entre os 15 primeiros era algo possível, mas difícil. Um 15° já seria incrível. 

Ter chegado no pódio superou suas expectativas?

Muito, não pensávamos nisso. A última vez que um estreante chegou ao pódio foi há 36 anos. O resultado foi muito além do que imagnávamos. 

Resultado no Dakar superou todas as expectativas do brasileiro
Resultado no Dakar superou todas as expectativas do brasileiroFlavien Duhamel - Red Bull

Consegue apontar algo mais importante que fez a diferença?

Pode parecer clichê, mas foi manter a cabeça fria. O Dakar é uma prova longa, acontecem muitas coisas em um único dia. Se você não olhar o longo prazo, pode se perder. É preciso olhar o filme e não a foto, focando na corrida como um todo. O mais importante pra gente era não perder a cabeça, sem tomar decisões movidas pela emoção. 

Teve uma preparação específica para o Dakar? Onde e por quanto tempo?

Fui para o Peru no começo do ano de 2022 para fazer um treinamento específico em dunas. Lá estão presentes algumas das dunas mais difíceis do mundo, essa preparação me ajudou muito, foi um curso de uma semana somente neste tipo de terreno. Mais próximo de dezembro, 30 dias antes do Dakar, participamos de uma prova em Dubai, a Baja International Dubai. Foi a primeira vez em que estive com o Timo, foi uma experiência proveitosa. 

Lucas sabe que, agora, olhares dos adversários diante dele serão diferentes
Lucas sabe que, agora, olhares dos adversários diante dele serão diferentesFlavien Duhamel

Algum momento mais difícil, marcante ou decisivo, que você vai se lembrar por muito tempo?

Logo na segunda especial, que era um trecho de 450km, sendo 350km somente de pedras, ficamos sem um pneu. Tínhamos apenas dois estepes. Isso aconteceu com apenas 15km, foi um momento muito difícil, não poderíamos ficar sem pneu e tivemos a cabeça no lugar pra tomar a melhor decisão. Muitos dos top5 ou top 10 perderam pneus por mais de duas vezes. 

Um segundo momento complicado foi quando tive náuseas pelo sobe e desce do terreno. Precisei parar o carro para me recompor, passei mal por alguns segundos, mas consegui chegar do outro lado e ter um bom resultado. 

Este resultado muda seu parâmetro para outras competições a partir de agora?

Sei que ainda tenho muito para aprender, não posso perder isso de vista. Ainda mais considerando uma prova como o Dakar, onde é preciso ter um bom ritmo para brigar pelas primeiras posições. Consegui achar este ritmo sem correr muitos riscos, isso foi bem importante para ficarmos sempre entre os primeiros colocados. Ainda quero evoluir e melhorar mais, principalmente em termos de velocidade, este é meu objetivo agora. 

Lucas reconheceu a importância do navegador Timo Gottschalk  ao seu lado
Lucas reconheceu a importância do navegador Timo Gottschalk ao seu ladoDPPI - Red Bull

Acredita que sua régua e a visão que os adversários têm de você serão diferentes a partir de agora?

Acredito que sim, até porque eu era um desconhecido. Este resultado aumenta minha visibilidade diante dos outros pilotos, mas estou tranquilo em relação a isso. 

Qual a importância do Timo Gottschalk no resultado, levando em consideração que você é um novato?

Uma importância gigante. Ele é um cara de muita experiência, correto e profissional. Traçamos uma estratéga desde o início e a seguimos o tempo todo. O Timo me ajudou a ter calma para não sairmos do que tínhamos planejado. A navegação foi perfeita, isso foi decisivo no resultado final. 

Dupla teve regularidade premiada com presença no pódio
Dupla teve regularidade premiada com presença no pódioMarcelo Maragni - Red Bull

Como foi a construção desta parceria? Você já o conhecia?

Eu o conhecia somente de nome. O chefe da equipe sugeriu, informando que ele estava disponível. Não tive dúvidas para aceitar a sugestão, a gente se deu bem desde o começo, a relação foi ótima. 

O que é mais importante para um novato se dar bem no Dakar?

Acredito que seja controlar o ego. Em algumas especiais, eu até poderia andar mais rápido, mas é um risco que se corre. Sendo um novato, é preciso saber que você não vai chegar na frente na sua primeira participação. Aprender o tempo todo era fundamental. Falei com o Timo que muita gente perde posições por conta do ego, de querer ganhar de qualquer jeito, esquecendo o tamanho da corrida. É um percurso longo, muita coisa pode acontecer, é sempre bom ter isso em mente e manter a cabeça no lugar. Espero que este resultado faça o rally crescer ainda mais no Brasil. 

Dupla competiu junta, pela primeira vez, em dezembro, em Dubai
Dupla competiu junta, pela primeira vez, em dezembro, em DubaiLucas Maragni - Red Bull