“Antes de implementarmos a biometria facial, cambistas aderiam legalmente ao Avanti, programa de sócio-torcedor do clube, compravam ingressos dentro do nosso sistema e depois os vendiam por preços bem acima dos que cobrávamos, o que configura crime”, explica o diretor de marketing do Palmeiras, Everaldo Coelho.
“Era algo que nos incomodava muito, pois os nossos torcedores, incluindo os sócios Avanti com direito à prioridade de compra, não conseguiam adquirir ingressos para as partidas do Palmeiras.”
A revolução no acesso ao estádio tem rendido frutos ao clube. Em agosto, o Palmeiras atingiu a marca de 200 mil sócios-torcedores ativos, recorde no país. Foram 62 mil novos membros entre janeiro e julho deste ano. Como resultado, o clube espera arrecadar mais de R$ 70 milhões com o Avanti em 2024.
O Palmeiras afirma ser o primeiro clube de futebol do mundo a implementar o sistema de biometria facial em todos os acessos ao estádio em dias de jogo. No Brasil, o artigo 148 da Lei Geral do Esporte (LGE) determinou que todas as arenas esportivas com capacidade superior a 20 mil pessoas tenham o reconhecimento facial em suas catracas até junho de 2025.
Com a exigência, os clubes começaram a adotar a tecnologia de forma gradual, mas nenhum outro exige o reconhecimento facial em 100% das entradas. Há casos como o do Flamengo, que usa o sistema para todos os ingressos comercializados na internet, mas ainda comercializa bilhetes físicos em postos de venda.
“Estudamos algumas opções tecnológicas e entendemos que o problema somente seria solucionado por meio do reconhecimento facial”, ressalta Coelho.
O Palmeiras não revela quanto gastou para implementar a biometria facial no Allianz, em projeto realizado com a Bepass. “Posso dizer, contudo, que o investimento vale a pena”, garante o diretor de marketing.
Parceria da Dinamarca
Em 2020, o Palmeiras buscou a dinamarquesa NewC Sport para auxiliá-lo no combate ao cambismo. De acordo com Everaldo Coelho, a parceria ajudou a aperfeiçoar o Avanti e a desenvolver o projeto da biometria facial, colaborando para alcançar a marca de 200 mil sócios-torcedores.
Antes focada em fornecer ingressos para clubes e federações, a NewC passou a formar parcerias estratégicas para oferecer soluções tecnológicas. Além de Dinamarca e Brasil, a empresa atua na Inglaterra, no País de Gales e na Suécia.
“O Palmeiras está trazendo sistemas usados em outras indústrias, mas que não estavam prontos para o mundo do futebol. E eles são os pioneiros nessa direção. Em escala global, a indústria do futebol não é um setor tão grande se comparada com os bancos ou a indústria médica, onde há pessoas muito bem pagas para organizar e implementar sistemas nos lugares certos”, explica o CEO da NewC, Mikkel Skou.
“E precisamos saber que trabalhar com futebol, criar sistemas e ajudar na transformação digital requer muita expertise, porque é uma indústria muito complexa, com uma demanda muito alta do público em um período muito curto. É ótimo que o Palmeiras esteja implementando soluções que ainda não estão maduras o suficiente para o futebol, mas vemos que agora estão funcionando, e isso se tornará um padrão da indústria em muitos lugares.”
O crescimento do Palmeiras não tem se limitado ao número de sócios. O público médio no Allianz, que antes era de aproximadamente 23 mil pessoas, passou dos 30 mil após a transformação tecnológica. O reconhecimento facial também trouxe uma redução de ingressos não utilizados e de tempo gasto no acesso ao estádio.
“Evidente que toda mudança requer um período de adaptação. Por esse motivo, tomamos a precaução de implementar o sistema de forma gradual até que ele funcionasse em todos os acessos do estádio. A repercussão foi altamente positiva porque o torcedor logo compreendeu que esta inovação visava protegê-lo e melhora a sua experiência”, acrescenta Everaldo Coelho.