Adson foi adquirido pelo Nantes em agosto (!) junto ao Corinthians. Cinco meses depois, ele está de volta ao futebol brasileiro.
Estou dando este exemplo apenas para ilustrar a situação que tanto me incomoda, sem saber detalhes dos motivos que fizeram o jogador retornar ao seu país de origem.
É mais comum do que deveria jogadores voltando a jogar no Brasil depois de experiência mal sucedida fora do país.
Na despedida, o discurso é parecido: independência financeira, ganhar experiência em um campeonato internacional, ter a chance de jogar uma Champions ou Liga Europa. Poucos meses bastam pra tudo isso cair por terra.
Creio eu que as dificuldades encontradas são maiores do que as esperadas, principalmente quando a transferência acontece com jogadores mais jovens. Isso é normal.
Mas era sabido, principalmente pelo jogador, que algumas diferenças apareceriam: língua, cultura, frio, comida, ambiente no vestiário, esquema tático, treinador que não dá as esperadas oportunidades e por aí vai...
Esperava-se o que longe do Brasil? Calor na maior parte do ano? Resenha e pagode rolando solta no vestiário e brasileiros de sobra para falar a sua língua? Cuzcuz, tapioca e acarajé?
Minha crítica não se dá pelo retorno e sim pelo pouco tempo de tentativa para fazer as coisas se acertarem na nova casa. A decisão passa muito pela formação e mentalidade do jogador.
Alguns já vão para a Europa bem preparados, determinados a ficar por algum tempo antes de pensar em um possível retorno, fazendo questão de, até mesmo, aprender o inglês para facilitar sua adaptação fora do país.
Bate-volta é caminho mais fácil
As barreiras são várias e me parece cômodo acionar o clube ou empresário e manifestar desejo de voltar ao futebol brasileiro, sem mostrar um pouco de força de vontade para superar todos os desafios.
Poucas oportunidades do treinador e as esperadas dificuldades de adaptação fazem logo o jogador pensar em voltar ao Brasil. Na primeira proposta que aparece, já se cogita o retorno.
Se eu fosse agente do jogador, tentaria convencê-lo sobre a importância de seguir em determinado país e cavar seu espaço em um novo cenário, como conseguiu fazer no Brasil. Mas sabemos como muitos agentes estão mais interessados nos lucros do que na formação profissional de seus atletas.
Rabo entre as pernas
É justamente nas dificuldades que se cresce, tendo a chance de, no futuro (a médio e longo prazo, por favor), olhar pra trás e ver tudo que foi superado e conquistado.
Sei bem que cada caso é um caso e peculiaridades existem: problemas pessoais, familiares precisando da presença constante em virtude de alguma necessidade, etc. Mas estes são caso específicos e, de uma maneira geral, não é o que acontece.
O que motiva o retorno de boa parte dos jogadores é o desejo de voltar ao ambiente que ele tanto conhece. A sensação de estar em casa é única, respeito isso.
Mas é frequente vermos jogadores colocando o rabo entre as pernas e voltando ao Brasil na segunda dificuldade que aparece, sem ter a noção de tudo que está deixando pelo caminho. Isso sem contar o possível prejuízo financeiro ao clube que o contratou. Mas isso não é problema deles...
Oportunidade perdida
Apenas para citar algumas das possíveis conquistas na Europa, por exemplo, tem-se a chance de aprender uma outra língua, de morar em um país de primeiro mundo e conhecer diversos valores de vida que não temos no Brasil.
Fica pelo caminho a chance de aprimorar sua visão de futebol em uma escola diferente, de se tornar um jogador melhor ao assimilar novos aprendizados na parte tática, talvez podendo atuar em uma nova posição, de dividir o campo (ao lado ou contra) com jogadores renomados que nunca passarão perto do Brasil, de jogar uma competição como a Champions e por aí vai...
Fácil não é e ninguém disse que seria. E isso era de conhecimento do jogador e de sua família desde o início das negociações.
Fecha a conta e passa a régua
Ninguém o obrigou a assinar um contrato de quatro ou cinco anos para pedir o boné em poucos meses, podendo criar uma dose de decepção em quem se alegrou com a oportunidade que surgiu e foi deixada de lado depois de tão pouco tempo.
Essa volta pode, inclusive, prejudicar seu futuro, na hora de um possível retorno à Europa. A análise do histórico recente pode pesar contra e o novo desejo de jogar no Velho Mundo ficar pelo caminho.
O futebol brasileiro seguiria à sua disposição por muitos anos. Dizer que não custava nada seguir na Europa é exagero, mas vejo estes retornos como uma opção fácil e rápida de mudar um cenário em um período de adaptação que mal começou.