Por que comentaristas brasileiros resolveram assassinar o nome de Kevin De Bruyne?

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

OPINIÃO: Qual o crime que comentaristas brasileiros cometem com De Bruyne

O nome dele não é fácil, mas não precisa assassinar
O nome dele não é fácil, mas não precisa assassinarProfimedia
É muito fácil tirar um sarrinho do dirigente flamenguista Marcos Braz, já que ele é uma piada pronta ambulante. Mas o feitiço às vezes vira contra o feiticeiro, e Braz tem munição para se vingar de seus algozes.

Neste fim de semana, o cartola falou "inalação" em vez de "ilação" na coletiva pós-Bragantino 1x1 Flamengo e, obviamente, a internet não perdoou (nós também não).

Seu vacilo idiomático mais famoso, porém, ainda é o do Manchester United. Na cena que virou um clássico, Braz tenta – e falha miseravelmente – pronunciar o nome do time inglês.

Alguns jornalistas esportivos até hoje racham o bico da pronúncia do flamenguista, incluindo os excelentes Mauro Cezar Pereira, Arnaldo Ribeiro e Eduardo Tironi.

A vez mais recente que o trio fez piada com a pronúncia do deputado-cartola foi na live semanal que eles têm no YouTube.

Só que nesta mesma live, outro dia, foi o Mauro Cezar e seus colegas que viraram inadvertidamente alvo de piada.

Eles estavam elogiando o meia Kevin de Bruyne quando causaram um ataque de riso na minha parceira, que é holandesa.

Depois de recuperar o fôlego, ela me pediu para voltar o vídeo. Eu dou play na hora em que o Mauro diz: Kevin de "Bruíne" – e ela casca de rir novamente.

Ao contrário do que fazemos com o Marcos Braz, minha parceira não foi jocosa, mas achou a pronúncia "muito engraçada", e me perguntou: "Se eles sabem falar direito o nome do Virgil van Dijk, por que não tentam com o nome do De Bruyne?"

Não soube responder.

O ditongo de Van Dijk o pessoal acerta
O ditongo de Van Dijk o pessoal acertaAFP

Talvez pelo mesmo motivo que a mídia brasileira aprendeu a falar Leicester ("léster"), mas não Tottenham ("tótnam")? 

Fato é: o jeito correto de falar o sobrenome do meio-campista do Man City é algo como "brâune".

"Bruyne" é uma grafia arcaica do flamengo (o dialeto belga, não o time carioca) da palavra "marrom" ("brown", em inglês, e "braun", em alemão).

Gente, não há mais desculpa na era da internet.

Se os comentaristas sabem que Brown não tem som de "brôun" (ou algo que o valha), ou Harry Kane não é chamado de "câne", um rápido Google ensina como se pronuncia o nome de um dos maiores meio-campistas do futebol mundial.

E outra: qual palavra em português tem acento no Y? Não faz nenhum sentido chamar o homem de "De Bruíne".

Por que tentamos pronunciar os nomes anglo-saxões corretamente e aportuguesamos o resto?

Comentaristas e narradores desinformam ao não aprender a falar corretamente o nome de alguns atletas importantes.

Os narradores da TNT Sports, diga-se, tentam um jeito mais acertado – eles chamam o jogador de "Brúine", com um acento no U.

Na Inglaterra, o meia belga é normalmente chamado pelos comentaristas de "Bróine", porque o fonema é bem complicado para falantes da língua inglesa. Ou seja, eles tentam algo próximo ao nome verdadeiro do meia.

Dois pesos, duas medidas

Em conversa de bar com o jornalista PVC, perguntei para ele por que a imprensa não costuma se informar sobre a pronúncia de times e jogadores.

Ele argumentou que na França, o pessoal chama o Ronaldo de Ronaldô.

Só que, primeiro: a França tem uma cultura de ultra-proteção de seu idioma (algo que não temos aqui, vide como chamamos os times da NFL ou NBA no Brasil e como os hermanos na Argentina o fazem, por exemplo).

Jaylen Brown tem seu nome dito corretamente na transmissão brasileira
Jaylen Brown tem seu nome dito corretamente na transmissão brasileiraAFP

E, segundo: a quase totalidade das palavras no francês terminam em oxítona – o que torna a adaptação para Ronaldô natural.

É pela mesma razão que não usamos o "c" espanhol (aquele com a língua entre os dentes) quando falamos "Barcelona" ou por que falamos "Juventus" em vez de "Iuventus".

Mas o caso de De Bruyne é diferente. Como não há paralelo para este ditongo em português, os comentaristas brasileiros tinham que se informar antes de inventar qualquer groselha.

O J em Juventus e Jeep soa diferente em inglês, italiano e português
O J em Juventus e Jeep soa diferente em inglês, italiano e portuguêsProfimedia

Na Inglaterra, por exemplo, não há um narrador que chame o Gabriel Jesus de "Guêibriel Djísus" – o que seria a pronúncia natural em inglês do nome do brasileiro.

E o mundo inteiro sabe que o "nh" em "Raphinha" é pronunciado como "gn" em "Bologna".

No tênis, a transmissão dos canais europeus fazem questão de chamar a Bia Haddad Maia de "Hadádi", já que a brasileira não pronuncia seu sobrenome como proparoxítona (que é a versão "internacional" do nome).

Aliás, palmas para os narradores de tênis da ESPN brasileira que não chamam a Coco Gauff de "gáufe" e a Karolina Muchova de "muxôva".

OK, não precisa chamar o Haaland de "rôland", ou o Louis Van Gaal de "Van Hál", porque as letras em questão já tem sons particulares na nossa língua.

Mas se o futebol gringo chegou para ficar no Brasil, não há desculpa: passou da hora de os comentaristas brasileiros serem mais cuidadosos e informativos, e saberem que:

• O "g" acentuado em Gündoğan é mudo;

• O "h" em Fulham é mudo;

• O "ch" em Bochum soa como "h"'

• O "mouth" em Plymouth não é como "boca";

• O sobrenome de Ronald Koeman soa como "cu" mesmo;

Antes de sacanear o Marcos Braz por causa do Manchester United, a gente precisa aprender a falar De Bruyne direito.

A opinião dos editores não necessariamente reflete a do Flashscore
A opinião dos editores não necessariamente reflete a do FlashscoreFlashscore